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A evolução tecnológica e a formação

por Lerparaver

- Introdução

- A importância do acesso à informação no mundo actual

- O acesso dos cegos e Amblíopes à informação e à cultura ao longo dos tempos

- A necessidade de uma formação adequada que permita a utilização das novas tecnologias pelos deficientes visuais

- Conclusão

INTRODUÇÃO

Neste trabalho pretende-se realçar o valor da Formação para melhor utilização das novas tecnologias pelos deficientes visuais. Num mundo totalmente dependente dos avanços da técnica, a informação corre mais depressa do que há uns anos atrás. As empresas, os departamentos públicos, enfim todos os sectores da nossa sociedade têm necessidade de aceder a toda a informação possível num curto lapso de tempo. Os cegos e os Amblíopes, se querem estar a par desta evolução, têm de fazer o mesmo, quer dizer, tentarem por todos os meios ao seu alcance acompanhar este rápido desenvolvimento da sociedade. Se tal não for conseguido, continuaremos a viver afastados dela, não podendo participar em pleno na sua evolução.

Para usufruir em totalmente das vantagens que a tecnologia lhes oferece, é absolutamente necessário que seja facultada formação adequada aos cegos e Amblíopes. Pretende-se portanto com este trabalho, discutir o avanço tecnológico e a evolução da formação, que nem sempre têm andado de mãos dadas.

A importância do ACESSO Â INFORMAÇÃO no mundo actual.

A comunicação e o acesso â informação têm sido uma preocupação constante do homem desde os primórdios da civilização. Os estudiosos clássicos; filósofos, matemáticos, dramaturgos, etc. tiveram sempre a preocupação de que as suas obras fossem acompanhadas pelo maior número possível de cidadãos. Na sua divulgação utilizavam-se os meios disponíveis na altura, como a escrita e a transmissão oral. Ao longo da Idade média, praticamente toda a cultura estava nas mãos da Igreja, sendo a cópia das obras feita por monges copistas, que enriqueceram as bibliotecas de toda a Europa. No entanto, o acesso a estas obras estava limitado aos elementos do clero e a alguns nobres. Com o Renascimento, a ideia de uma cultura e de uma ciência que estivessem ao serviço da sociedade e não apenas acessíveis a alguns, foi tomando forma. Por toda a Europa apareceram estudiosos, que foram divulgando as suas ideias, tendo a partir do século XV a imprensa de Gutenberg para os ajudar. Podemos talvez considerar o Renascimento o primeiro grande movimento que procurou pôr a cultura ao serviço de todos, que permitiu um grande desenvolvimento da ciência e que preparou o advento da Idade Moderna. A experimentação científica e a divulgação de ideias estavam na ordem do dia, apesar da resistência escolástica sistemática. Alguns séculos depois, nos fins do século XIX e princípios do século XX, a evolução tecnológica era uma realidade. Homens como Edison (O Mago), Bell, Marconi e outros, permitiram com as suas descobertas que a Humanidade começasse a trocar mais informação em menor espaço de tempo. Invenções como o telégrafo, o telefone, o gramofone, o cinema, a telefonia e mais tarde a televisão, fizeram com que o mundo ficasse mais pequeno. As notícias, as novidades científicas, etc. estavam ao alcance de todos num menor lapso de tempo. Começou-se até a dizer que "Tempo é dinheiro". Este provérbio reflecte bem a necessidade de acelerar a transmissão da informação.

Com o aparecimento dos computadores e das transmissões por satélite estas trocas de informação passaram a ser praticamente automáticas. O facto acontece e é visionado em todo o mundo passados escassos minutos, ou mesmo até em directo.

Podemos lembrar que durante a Guerra do Golfo O comandante das forças aliadas, General Schwarzkov não permitiu que se efectuassem certas transmissões televisivas por poderem pôr em risco a estratégia aliada, ao fornecerem pistas ao inimigo via televisão. Como é óbvio, esta sede de informação pôs toda a gente a funcionar mais depressa. Isto reflecte-se em todas as vertentes da nossa vida social; nas empresas, nos departamentos públicos, nos transportes, na alimentação, etc.. Trabalhamos mais depressa, deslocámo-nos mais depressa e comemos em menos tempo. Como diz o provérbio atrás referido "Tempo é dinheiro".

Pelo facto de uma simples chamada telefónica demorar mais de cinco minutos a ser efectuada uma empresa pode perder milhares de contos. Nada pode falhar nesta sociedade em aceleração constante. Para culminar esta globalização da comunicação apareceu um novo meio de transmissão de dados rápido e barato a "Internet". Qualquer cidadão em qualquer parte do mundo pode aceder à informação no outro lado do globo em poucos segundos e ao preço de uma chamada telefónica local. Isto veio revolucionar a transmissão de informação e assegurar a sua liberdade. Tirando aqueles "Sites" que têm um código e um preço, todo o resto está disponível. Não há limites. Na "WEB" encontramos informação sobre qualquer assunto, a qualquer hora do dia, 365 dias por ano. Podemos portanto dizer que o acesso à "Internet" é imprescindível para quem quiser manter-se no grupo das pessoas bem informadas.

O acesso a toda esta informação está dependente de uma parafernália de objectos que cada vez mais nos rodeiam, e que cada vez mais são necessários ao nosso quotidiano. O mais importante destes objectos é o computador pessoal. Este veio revolucionar as nossas vidas, mais do que o fizeram as máquinas durante toda a "Revolução Industrial". A vida na Terra muda a um ritmo alucinante graças em grande parte a esse aparelho cada vez mais poderoso e cada vez mais pequeno. Veremos no ponto seguinte deste trabalho como é que a evolução da tecnologia no acesso à informação foi acompanhada pelos cegos e Amblíopes.

O acesso dos cegos e Amblíopes à informação e à cultura ao longo dos tempos.

Até ao ano em que foi inventado o Braille, 1837/39 por Louis Braille, os cegos e Amblíopes não tinham praticamente acesso à informação e à cultura. Tudo o que estava escrito lhes era vedado, a não ser que alguém lhes lesse um livro ou um jornal por exemplo. Com o Sistema Braille os deficientes visuais passaram a ter ma arma que lhes permitia ler, trocar correspondência, estudar, fazer enfim várias coisas que antes lhes estavam vedadas. Pode-se afirmar portanto que o Braille foi uma verdadeira revolução na vida dos deficientes visuais. Com o aparecimento desta escrita, surgiram como é óbvio as pautas e as máquinas de escrever Braille. Estes dois objectos eram e são fáceis de manusear, quer dizer a sua utilização não exige aprendizagem demorada depois de se saber o alfabeto Braille. Continuando a falar dos objectos que foram e são de grande utilidade para os cegos, não podemos esquecer a máquina de dactilografia. Depois de uma aprendizagem algo demorada, pois a sua utilização pressupõe que o deficiente decore um teclado que não vê, o domínio de tal técnica permitiu e permite aos cegos e Amblíopes comunicarem com os videntes, não podendo no entanto ler aquilo que escrevem. É um grande avanço na comunicação com os normovisuais, mas não a facilita totalmente. Estas duas técnicas estão ainda hoje presentes na aprendizagem de qualquer cego ou amblíope de nascença ou tardio. Se em relação ao Braille se pode afirmar que é essencial a qualquer deficiente visual, em relação à máquina de dactilografia já não se pode dizer o mesmo. No entanto algumas instituições responsáveis pela reabilitação de deficientes visuais tardios insistem nesta técnica, penso que por falta de capacidade para a modernização.

Deixando os comentários sobre este assunto para o capítulo seguinte, vamos continuar a falar da tecnologia que foi sendo inventada e da forma como os cegos e amblíopes puderam desfrutar dela. Os aparelhos que utilizavam a energia eléctrica como suporte começaram a aparecer. A invenção do o telefone veio encurtar as distâncias, para comunicar já não era preciso estar junto da pessoa com quem se falava só era e é necessário ouvir. Os cegos e amblíopes fazem muito uso deste aparelho, tendo como é fácil de calcular contas bastante grandes para pagarem no fim de cada mês. Este meio de comunicação evita muitas deslocações aos deficientes visuais, tornando por isso a vida muito mais confortável.Com a invenção da Telefonia em 1901 (primeiras experiências) por Marconi o mundo colocou em pé de igualdade os normovisuais e os deficientes, pelo menos no que diz respeito ao acesso à programação que passa na Rádio. Em relação a este objecto , hoje presente em todos os lares, mesmo os mais pobres, podemos considerar que os cegos e os amblíopes ficaram a ganhar muito, abriram-se novos horizontes. A comunicação começou a globalizar-se. Como exemplo da importância para a Humanidade deste fenómeno que foi e é o Rádio, temos a célebre emissão de Orson Wells da "Guerra dos Mundos", que sendo ficção, colocou milhares de pessoas em sobressalto, é a força da Rádio e os deficientes visuais podem desfrutar dela em pleno. Alguns anos depois foi inventada a Televisão, que é para os videntes algo de inultrapassável tanto em informação como em entretenimento. Toda a gente tem uma televisão em casa. Os cegos e amblíopes também, pois apesar de muitos programas estarem apenas dirigidos para a visão, ainda podem tirar proveito de muitas coisas através do que ouvem; notícias, debates, reportagens, documentários, etc.. A televisão é talvez um dos grandes instrumentos da Humanidade para a tão falada globalização da comunicação, podendo os cegos e amblíopes tirar talvez uma percentagem de 50% de proveito dela.

Até aqui, falou-se principalmente do acesso dos deficientes visuais a alguns objectos que não foram desenhados especificamente para eles; a máquina de dactilografia, a rádio e a televisão. Se juntarmos estes às pautas e máquinas de Braille (objectos específicos) podemos considerar que a sua utilização não pressupõe uma aprendizagem complicada. Isto mesmo se pode dizer dos gravadores. Estes, primeiro de bobinas e depois de cartuchos e cassetes, chegando agora aos sistemas digitais (DAT, Minidisc e MP3), também foram e são de grande utilidade para os cegos e amblíopes. Todos sabemos que hoje existe um grande número de obras gravadas; tanto livros como publicações periódicas, por exemplo a "Ponto e Som". Por tudo isto o gravador, que já no entender de Edison seu criador, viria a ser muito útil para qualquer deficiente visual, tanto para trabalho como para estudo e entretenimento, está presente nos lares e empregos de todos os cegos e amblíopes. O seu manuseamento não apresenta qualquer dificuldade, não precisando por isso de uma acção especial de formação, dirigida aqueles que pretendem utilizá-lo.

Já falámos de materiais que apesar de não terem sido inventados especificamente para deficientes visuais, podem ser usados por estes com grande facilidade e bastante proveito. Passemos agora a objectos, para além da pauta e da máquina de escrever braille, que foram criados para uso específico dos deficientes visuais. No último quartel do século XX apareceu o Optacon, que permite por em relevo letras que estão escritas a negro, por meio de uma pequena câmara que o utilizador passa por cima do texto. Este aparelho fez com que pela primeira vez um deficiente visual tivesse acesso a um texto escrito a negro sem a ajuda de terceiros, que o transcrevessem para Braille ou que o gravassem. No caso do Optacon, a formação era absolutamente necessária, pois o utilizador teria de aprender o alfabeto a negro, para além do manuseamento do próprio aparelho. Alguns anos mais tarde, surgiu o Delta. Este era constituído por uma câmara que o cego colocava em cima do texto, mas ao contrário do aparelho anterior, este apresenta os caracteres numa linha braille. Pela sua complexidade Também necessitava de uma aprendizagem apurada, pois exigia muitas horas de treino, tal como o Optacon, até o utilizador conseguir tirar proveito desta tecnologia. Com o desenvolvimento dos computadores pessoais, os cegos e os amblíopes viram aparecer uma infinidade de equipamentos que lhes poderiam dar uma autonomia nunca antes esperada. Periféricos como o sintetizador de voz, a linha braille, as impressoras braille e os scaners vieram facilitar a vida dos deficientes visuais de uma maneira nunca antes pensada. Como é óbvio, estes equipamentos são acompanhados por "software" específico; por exemplo os OCRs (reconhecimento óptico de caracteres), que têm evoluído praticamente ao mesmo tempo que a informática evolui para os normovisuais, e se é verdade que esta não vem resolver todos os problemas dos deficientes visuais, vem de certeza ajudá-los muito. Com ela há uma infinidade de campos que podem ser explorados, tanto no estudo como na vida profissional.

A necessidade de uma formação adequada que permita a utilização das novas tecnologias pelos deficientes visuais.

Conforme já se disse atrás, a tecnologia abre hoje aos cegos e amblíopes horizontes até agora julgados impossíveis. Penso que esta verdadeira "revolução" se pode comparar àquela que se deu com o aparecimento do Sistema Braille no século passado,, sem o substituir como é óbvio. Este desenvolvimento técnico não vem resolver todos os problemas, pois como também já se disse, a evolução da sociedade em que estamos inseridos vai-nos colocando novos desafios todos os dias, tendo nós que os acompanhar, pois a vida em sociedade não está especificamente organizada para os cegos e amblíopes, pois são uma minoria; estes é que se devem adaptar a esta organização da vida quotidiana. Para isso podemos e devemos contar com as novas tecnologias. Uma utilização bem orientada destes meios técnicos põe à disposição de todos os deficientes visuais os instrumentos necessários para uma vida activa cada vez mais integrada, pondo assim fim à segregação a que estes estão votados por não terem acesso a toda a informação que os normovisuais têm.

Quando falo de novas tecnologias, estou sem dúvida a referir-me em primeiro lugar ao computador pessoal e a todas as vantagens que este oferece. O "PC" tem com certeza inúmeras possibilidades de utilização, mas cada um de nós deverá saber como o vai usar. É óbvio que cada utilizador terá algo de muito próprio a retirar do computador, devendo para isso dominar perfeitamente a máquina e conhecer todas as opções que ela oferece.

Como já foi dito, se compararmos o computador pessoal com outros equipamentos da nossa vida quotidiana, este oferece algumas dificuldades numa primeira abordagem. Não é algo que se possa dominar depois da leitura atenta de um catálogo, é antes uma máquina complexa e precisa, que exige do seu utilizador saber exactamente o que quer dela. Quero com isto dizer, que se pretendermos tirar todo o proveito de um "PC", todos os periféricos específicos, não específicos e todo o "Software" com resultados práticos positivos não podemos andar a "brincar" à informática, embora reconheça que eles também têm uma vertente lúdica. O que é, em meu entender necessário, é distinguir as duas vertentes e não as misturar em caso algum, pois pode-se correr o risco de os outros julgarem que estamos apenas a fazer mais uma "habilidade".

Postas as coisas nestes termos, passo agora a falar da formação e do aconselhamento técnico para a compra do material (computador, periféricos e programas). Em primeiro lugar, penso que o deficiente visual deve iniciar uma formação adequada. Por formação adequada, entendo que lhe deve ser ensinado o seguinte:

1. Noções gerais sobre o que é um computador e como funciona;

2. Sistema operativo ( Windows 95 ou 98);

3. Acesso ao monitor:

3.1 o sintetizador de voz

3.2 a linha

3.3 programas de ampliação de caracteres

3.4 monitores com mais de 19 polegadas;

4. Processadores de texto e a impressora a tinta;

5. O scaner e o(s) OCR(s);

6. A Internet e o correio electrónico;

7. Outras aplicações e periféricos julgados necessários pelos formador e formando.

Em relação ao primeiro ponto, será fácil de concluir que para a utilização correcta de um computador, é necessário que quem o opera tenha um conhecimento tão profundo quanto possível do seu funcionamento, só assim poderá evitar determinados erros e principalmente um subaproveitamento da máquina, dos seus periféricos e "software". Quanto ao "Windows 95 ou 98", podemos dizer que tanto uma versão como a outra são largamente utilizadas nas empresas privadas, escolas e departamentos públicos. É em meu entender obsoleto que ainda hoje se estejam a promover cursos de "MS-DOS" em instituições responsáveis pela formação de cegos e amblíopes. Com isto não estamos a integrar os deficientes visuais, mas sim a segregá-los. Julgo portanto que deve ser ministrada uma formação adequada aos tempos que correm, para que os cegos e amblíopes tenham um lugar na sociedade e possam participar nesta de uma forma integrada e produtiva. Fazendo aqui um parêntesis, queria acrescentar o seguinte em relação à formação dada aos deficientes visuais no ensino integrado e em certos centros de reabilitação de cegos tardios. Se queremos ter como objectivo da escola a integração na vida activa dos deficientes visuais, devemos dar-lhes formação que lhes permita competir o melhor apetrechados possível, no mercado de trabalho. Julgo que ninguém estará interessado em preparar alguém para o desemprego; devem por isso os professores do ensino integrado ter um conhecimento profundo de todas as novas tecnologias, eu diria que eles têm a obrigação de as dominar perfeitamente, de modo que possam ajudar os seus alunos a prepararem-se para um mundo real. Em relação aos centros de reabilitação de cegos tardios, passa-se mais ou menos o mesmo; alguns técnicos não conseguem acompanhar a evolução, não podendo por isso transmitir aos seus alunos o que há de novo neste final de século. Estes técnicos também teriam, em meu entender, a obrigação de estarem a par de toda esta evolução.

Vou falar agora de dois periféricos específicos; o sintetizador de voz e a linha braille. Apesar de considerar desejável que os deficientes utilizem o mais possível os programas dos videntes, não o podemos fazer em relação ao acesso que temos à informação que é mostrada no monitor. Para nós, a linha braille e o sintetizador são essenciais e, em minha opinião, não se substituem um ao outro. E portanto é imprescindível que os cegos e amblíopes dominem estes dois aparelhos e seus programas. Caberá aqui dizer, que considero que um amblíope que ainda possua um resíduo visual que lhe permita trabalhar com monitores maiores e com programas de ampliação de caracteres, o deve fazer sem hesitação. O único problema, é avaliar a extensão do seu resíduo visual, e escolher a melhor maneira de ultrapassar a situação . Esta avaliação não deve ser feita apenas pelo próprio, mas este deverá contar com a colaboração do seu médico oftalmologista e do seu formador / professor, que tem de estar habilitado a prestar esta ajuda. Sem esta colaboração continuaremos a assistir a alguns casos em que o deficiente visual gastou dinheiro e não viu o seu caso resolvido a contento, pois comprou material desajustado à sua realidade. Entramos agora nos processadores de texto e nas impressoras a tinta. Este "software" é essencial a todos os deficientes visuais, através dele estes podem contactar uns com os outros, com os videntes, produzir trabalhos e corrigi-los com facilidade, são oferecidas inúmeras possibilidades no tratamento de texto que os cegos e amblíopes nunca tiveram antes. Quem não se lembra de produzir um texto em braille, com uma pauta ou uma máquina Perkins e ao enganar-se praticamente no fim do trabalho ter de repetir tudo. Mais, com um processador de texto e uma impressora a tinta podemos enviar os nossos trabalhos a qualquer pessoa, com a certeza de que eles estão em condições, quer dizer já vão longe os tempos das máquinas de escrever a negro, em que o deficiente não podia corrigir o que escrevia . Gostaria aqui de fazer um comentário a uma notícia que tive recentemente; em alguns casos, nomeadamente na reabilitação de cegos tardios, ainda se utilizam as velhas máquinas de escrever, não sei se por alguma técnica que não conheço ou por impossibilidade de adaptação de algumas pessoas. Acho isto lamentável no ano de 1999. Concluo portanto que os processadores de texto e as impressoras a negro nos dão uma autonomia notável. No ponto cinco fala-se de scaners e de OCRs. Este aparelho e estes programas já existiam para os normovisuais, para estes fazerem reconhecimento de texto, não por não o verem, mas para terem ficheiros mais pequenos para trabalhar e armazenar. Felizmente que nos últimos anos se compreendeu a utilidade destes programas para os deficientes visuais utilizarem directamente, na leitura de correspondência por exemplo, ou para serem utilizados por aqueles que produzem material escrito para os cegos e amblíopes. Provavelmente de futuro encontraremos estes materiais em casa de qualquer deficiente visual, com a mesma frequência com que encontramos uma máquina de escrever braille. No entanto, a utilização do scaner e dos OCRs pressupõe uma aprendizagem que demora algum tempo, e que deve ser administrada por alguém competente. O ponto seguinte; a Internet e o Correio Electrónico, é de uma importância vital na sociedade de hoje. Na "Web" encontra-se todo o tipo de informação; as empresas privadas anunciam os seus produtos e serviços, procuram os seus fornecedores , os organismos oficiais utilizam-na para contactarem melhor e mais rapidamente os cidadãos, as descobertas científicas, as conclusões de congressos, enfim quase 100% da nossa vida está ao alcance na "Internet" ao preço de uma chamada local. Com toda a certeza, A. Bell quando inventou o telefone não imaginava o que aconteceria passado mais ou menos um século. Para além do acesso a toda esta informação, a "Internet" também permite o envio de correspondência( de 1 folha ou de 1000) conforme o desejo da pessoa ou entidade que envia. Por tudo isto o acesso à "Web" é absolutamente necessário a qualquer cidadão deficiente ou não. Pode-se acrescentar mais uma vez que a formação neste campo é imprescindível se o utilizador não quiser andar a "navegar" perdido, sem encontrar o que pretende rapidamente, fugindo assim ao espírito da existência da "Internet" e não conseguindo rentabilizar o seu tempo de estudo ou de trabalho. Terminando esta curta passagem pelos periféricos e programas passíveis de serem usados pelos deficientes visuais, tenho a certeza que muito ficou por dizer. Não fiz menção especial às folhas de cálculo, às impressoras braille, aos dicionários, etc.. Mas como é óbvio tal não estaria no âmbito deste trabalho. O que pretendo é somente chamar a atenção para os benefícios de uma formação adequada, e, aos malefícios de uma falta de formação quase crónica ou muito deficiente. Não quero dizer que não há "boa formação", apenas acho que é insuficiente. Como colaborador e principalmente como utente do Serviço de Apoio aos Deficientes Visuais da Faculdade de Letras do Porto gostaria aqui de realçar o trabalho que está a ser feito neste domínio. Este tem promovido cursos de braille para videntes que queiram colaborar, produzido material em todo o tipo de suportes: cassete, braille ou disquete, para alunos e ex-alunos da Universidade do Porto, ou de qualquer outra universidade que o solicite, mas acima de tudo, tem promovido a aprendizagem da informática a todos aqueles que assim o desejam, e que estejam, como é óbvio, incluídos na população a que o Serviço dá o seu apoio.

Este trabalho não se esgota na formação propriamente dita, paralelamente há um aconselhamento sobre o material a adquirir, tendo sempre em conta as especificidades de cada aluno e do trabalho que vai realizar. Juntando a todas estas acções, temos também tido a oportunidade de ver testadas no Serviço algumas novidades como por exemplo, recentemente um programa da PHILIPS o "Free speech". Acho que se justifica dar estes exemplos, pois a formação deve ser levada muito a sério para que todos possam aceder com facilidade a todos os aparelhos e programas que podem facilitar a suas vidas, e principalmente integrar os deficientes visuais na sociedade em que vivem.

Conclusão

Este trabalho só contemplou a formação ligada à evolução tecnológica, porque para além de a leitura e o acesso á informação através das novas tecnologias estarem no âmbito deste colóquio, me parece uma área onde é preciso uma atenção urgente e principalmente diferente daquela que lhe tem sido dispensada até agora. Não podemos continuar nalguns casos a "brincar" aos computadores, se queremos que a sociedade nos olhe de outra maneira. Isto é, uma integração plena depende de uma realização plena tanto na escola como na vida profissional e hoje em dia temos a tecnologia que nos pode ajudar a conseguir este objectivo, não devemos portanto deitar fora a oportunidade que nos é oferecida.

Terminaria com um conceito que não é novo nem original, pois já tive ocasião de o ler noutros trabalhos, feitos por outras pessoas, que é o seguinte:

"A cultura e o trabalho são as vertentes mais importantes da vida em sociedade para a integração plena dos deficientes".

João Eduardo dos Santos Fernandes