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Olá, Tadeu.
É um assunto muito interessante, e infelizmente tem feito parte da vida de muitos cegos e amblíopes.
Em primeiro lugar convém contextualizar.
No site da cp, podemos ver que a tarifa 2 por um, resulta de um acordo celebrado entre a CP Comboios de Portugal e o SNRIPD Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência, com o objectivo de minimizar as dificuldades de mobilidade dos indivíduos com autonomia condicionada. Este acordo veio permitir que os acompanhantes das pessoas com incapacidade igual ou superior a 80% viajem de forma gratuita no mesmo comboio, no mesmo percurso e na mesma classe.
O acordo tarifário estabelecido é válido em 2.ª classe para os serviços Alfa Pendular, Intercidades, Regional, Inter-Regional e urbanos de Lisboa e Porto.
Para beneficiar deste acordo, os Clientes com Necessidades Especiais têm que apresentar o Atestado de Incapacidade Multiuso.
Isto é a informação oficial.
Este acordo já é bastante antigo, tanto que o snripd já deixou de existir à alguns anos, sendo substituído pelo actual INR, (instituto nacional para a reabilitação).
Mas voltando à matéria de facto, a pergunta impõem-se. A onde está o problema?
A questão é que muitos clientes com necessidades especiais, faziam-se acompanhar por pessoas com a mesma deficiência, e solicitavam à cp ajuda para embarcar e desembarcar.
E isso é que no meu ponto de vista está completamente errado, e veio prejudicar a maior parte dos utilizadores deste serviço.
Se a Cp concede o benefício ao acompanhante, não é para que depois os funcionários da empresa tenham de ajudar à mesma os deficientes. É uma questão do mais elementar bom senso.
Vai Daí, os responsáveis da Cp elaboraram uma norma interna, que segundo eles, diz que um deficiente não pode ser acompanhado por uma pessoa com a mesma deficiência.
Esta questão implica vários aspectos que merecem ser reflectidos.
Em primeiro lugar a norma interna para mim não tem qualquer validade para o público, tanto que nós clientes nem sequer a conhecemos, porque a mesma destina-se apenas aos funcionários da Cp. Por isso em bom rigor essa norma nunca me foi mostrada, e a mim não me diz absolutamente nada.
Em segundo lugar, no acordo que foi feito entre a Cp e o extinto snripd, essa questão do acompanhante não poder ter a mesma deficiência, não foi salvaguardada.
Também não vislumbro a onde está o problema de um cego acompanhar outro cego.
Como todos sabemos, existem pessoas cegas que não andam sozinhas na rua, outros que se movimentam bastante bem, e se uma pessoa cega levar um amigo também cego a sua casa por exemplo, penso que o anfitrião pode perfeitamente servir de acompanhante. No fundo, ele conhece o caminho, faz aquele trajecto todos os dias, está familiarizado com o percurso, e em princípio a pessoa a quem ele acompanha não terá qualquer problema.
Até porque à uma questão importante, e que em minha opinião faz toda a diferença.
Esse argumento que os revisores da Cp por vezes usam, e que defende que um deficiente visual não pode acompanhar outro no comboio, porque também ele tem mobilidade reduzida, mesmo que se consiga provar a deficiência do acompanhante, devo dizer que as coisas não são bem assim.
quando uma pessoa decide viajar, devemos de ter em conta tudo o que motiva a viagem e não apenas o simples facto de andar de Comboio.
Por exemplo:
Se eu vou viajar e não tenho mais nenhum acompanhante a não ser uma pessoa cega, terei de ficar em casa? Mas se a pessoa vai só para ir comigo, porque até conhece o local para onde eu quero ir, e pode-me orientar sem problema. Já não me pode acompanhar?
Poderá dizer o revisor. Mas a pessoa também é cega. Eu responderia. Tudo bem, mas ela conhece o sítio para onde vamos, e eu não conheço. Logo tecnicamente ela tem todas as condições para me acompanhar.
Depois, temos ainda outra questão fundamental, e que para mim é indiscutível.
Se uma pessoa cega aceita ser guiada por outro cego, é uma decisão que só diz respeito aos dois. Eles melhor que ninguém sabem as linhas com que se cozem. A partir do momento que os dois são autónomos, e dispensam a ajuda dos funcionários da Cp, ninguém tem de colocar entraves a onde eles não existem.
Existe ainda outra questão curiosa.
Para que uma pessoa usufrua da tarifa 2 por 1, tem de exibir o seu bilhete de identidade, e o documento comprovativo da sua deficiência.
Se não mostrar esse documento, o revisor da Cp não tem como provar que a pessoa é portadora de deficiência.
Mas quando eles rotulam os acompanhantes de deficientes? Aí não têm nenhum documento! Para uns casos só com certidão multiusos é que atesta a incapacidade, mas para os acompanhantes basta um simples olhar? É uma incongruência grave.
Assim como também é uma falha gravíssima o funcionário da bilheteira não querer vender o bilhete.
Em primeiro lugar, ele não tem nada que perguntar quem é que vai acompanhar a pessoa com deficiência. Isso não é um assunto que lhe diga respeito.
Em segundo lugar. O cego é que sabe quando é que vai ser acompanhado e em que contexto precisa de ajuda. Um exemplo, se eu morar perto da estação de comboio, conheço bem o caminho para lá, mas se for para um destino que não conheça, aí sim vou precisar de arranjar um amigo que me ajude. Neste caso a essa ajuda é necessária depois da viagem de comboio, porque até à bilheteira da estação eu posso deslocar-me sozinho, comprar o bilhete, e esperar na gar pelo meu acompanhante. E eu não tenho de prestar esclarecimentos sobre a minha vida.
Parece-me claramente que os cegos aqui estão a ser francamente discriminados, porque não está a ser tida em conta a especificidade da sua deficiência. Porque, actualmente ao invés de encararmos como positivas e necessárias as medidas para tirar os cegos de casa, porque antigamente havia a ideia generalizada que os deficientes visuais eram dependentes e que rega geral não se deslocavam sós, hoje tenho a certeza que à razões mais que suficientes para que mudemos a direcção das políticas para os cegos, e aqui creio que é mais justo e vantajoso promover a autonomia do que insistir nessa teoria do assistencialismo, como se os cegos apenas conseguissem deslocar-se com ajuda de terceiros.
O que sucede é que nós, para sermos autónomos estamos sujeitos a despesas adicionais que os normovisuais não estão tão expostos a contraí-las. Por exemplo: uma pessoa sem mobilidade reduzida chega ao fim de uma viagem de comboio, e vai a pé ou procura um transporte público. Um cego quase que invariavelmente tem de tomar um táxi para se deslocar até ao seu destino.
Não estou a dizer, que só os cegos andam de Táxi, o que quero tentar transmitir é que para um normovisual essa é a terceira ou quarta alternativa, e para um cego 'a primeira.
Sendo a Cp uma empresa pública, faz todo o sentido que a empresa crie medidas para diminuir as diferenças entre os cegos e amblíopes, e o resto dos concidadãos.
Não faz sentido que dêem aos deficientes incentivos para a compra de casa, no fundo para nos tornarmo-nos autónomos, e depois que se criem regulamentos, ou normas internas, que defendam que nós apenas podemos andar acompanhados, sozinhos, já mais!
Em suma, penso que a base que sustentou a tarifa dois por um, deve ser reajustada ao contexto e às necessidades dos deficientes visuais, e naturalmente caso outras deficiências requeiram medidas diferentes das que eu preconizo, elas também devem ser contempladas. De uma vez por todas, à que arrumar para o lado aquela ideia que os deficientes são todos iguais.
Cada deficiência têm as suas necessidades.
Assim, à que dizer que o objectivo inicial desta medida, que recordo é minimizar as dificuldades das pessoas com mobilidade condicionada, não está a ser cumprido, porque precisamente pelo facto de termos limitações ao nível da mobilidade, precisamos de medidas que discriminem positivamente, para que possamos ser mais iguais aos nossos semelhantes com mobilidade normal.
Finalmente deixo um exemplo prático, e que para mim é extremamente eloquente do quanto esta medida da Cp é discriminatória.
Se um grupo de 4 pessoas precisar de ir do Porto para Lisboa, e se optar pela solução mais económica e mais cómoda, obviamente irá de automóvel.
Mas, se forem 4 cegos que pretendam fazer a mesma viagem, terão de ir de comboio, e aí o preço a pagar ultrapassa os 200 euros ida e volta, bem entendido. Quem for de automóvel não paga tanto, chega ao destino mais rápido, e não se sujeita aos horários dos comboios, ou seja, se todos tivermos duas alternativas, provavelmente iremos optar pelo transporte particular, enquanto os cegos apenas têm uma solução possível, que é o transporte público.
Um abraço para todos.
Filipe.
+Filipe Azevedo
Olá, Maria.
Não se trata de fazer críticas negativas. Simplesmente de dizer que este caminho não serve, é preciso encontrar outro.
Como sabe, os deficientes visuais ainda são encarados como uma classe. É algo que eu repudio com todas as minhas forças, mas actualmente a realidade que temos é essa.
Quando uma pessoa cega se porta mal no trabalho, a entidade patronal, se estiver perante a primeira experiência de integração, vai pensar que todos os outros cegos também são maus trabalhadores, e numa grande parte das situações já não repete a ideia de integrar um colaborador com deficiência visual.
O problema do livro amarelo é que nós não o podemos preencher com os nossos próprios meios.
E as soluções que a Maria preconiza podem ser postas em prática, desde que tenhamos alguém da nossa confiança que esteja do nosso lado. E como sabe hoje à cada vez mais cegos que andam sozinhos, vão a jantares sem a presença de normovisuais, fazem compras nas mesmas circunstâncias, e neste ponto de vista são claramente prejudicados.
Este problema tem sido discutido, e até ver ainda ninguém conseguiu encontrar uma alternativa que fosse justa, mas creio que ela irá aparecer à medida que formos reflectindo.
A solução do livro em Braille tem um grave problema. Regra geral não andamos com apetrechos para escrever em Braille, e depois temos o problema da descodificação. Como é que as autoridades iam decifrar a queixa do cego. Teria de se encontrar uma alternativa para escrever em Braille e a negro, mas isso ainda implica usar mais apetrechos do que escrever só em Braille.
O facto de ainda não se ter encontrado uma alternativa, não implicava que um cego que participou no tal jantar pretendesse reclamar, embora que essa intenção fosse meramente simbólica. Ao menos podia fazer com que mais gente ficasse sensibilizada para o problema, e pudessem encontrar uma outra alternativa que eu pelo menos não esteja a vislumbrar.
Finalmente, quero dizer que vale sempre apena debater e reflectir à cerca das actividades, ou pelo menos do tipo de actividades que devem ser realizadas. Precisamente por haver pouco debate, e por não haver uma ideia clara da forma como se pretende sensibilizar a sociedade civil, é que as pessoas vão actuando de uma forma desgarrada. E seria bem melhor que houvesse uma ideia nítida do tipo de actividades que deviam ser promovidas, para que aqueles que queiram, e que se sintam com vontade de fazer algo, possam ter uma base para saberem como proceder.
E isso repito não são críticas destrutivas, mas sim concluir de que forma podemos atingir o nosso principal objectivo.
E a ideia que deve ser sempre tida em conta, é usar os próprios cegos para sensibilizar as pessoas, nunca utilizar os nornovisuais, porque por muita bondade que aja na realização da iniciativa, eles nunca vão ficar a conhecer verdadeiramente as dificuldades de um cego.
Um abraço.
Filipe.
+Filipe Azevedo
Caros amigos.
Tive o grato prazer de estar presente na inauguração desta exposição do António Capela, que se chama Madeira à minha maneira.
Em boa ora, o museu Etnográfico de Vilarinho das furnas, deu oportunidade ao nosso amigo Capela de expor o seu trabalho.
Digo-vos sinceramente que vale bem apena ir visitar a exposição e comungar do talento, da criatividade, do perfeccionismo e do carinho que o António Capela empresta aos trabalhos que faz.
Estão expostos trabalhos de grande qualidade, que comprovam bem a classe que sai das mãos do António.
Costuma dizer-se que um homem, para deixar a sua marca na humanidade, ou tem de escrever um livro, plantar uma árvore, ou ter um filho.
O António nem escreveu um livro, nem teve um filho. Mas esta exposição que foi inaugurada no passado Sábado, representa a plantação de uma árvore. E o que eu desejo mesmo é que isto dê início à abertura de uma imensa floresta, cheia de árvores carregadas de bons frutos.
Eu por mim, sei que não posso ajudar o António a preencher a floresta, plantando mais e mais árvores, mas tenho imensa vontade de continuar a apreciar o seu trabalho.
Após ter visto esta exposição, a minha ideia do António ficou muito clara. Ele é um verdadeiro artista.
Todos pudemos ouvir as palavras do António, que nos prometeu que ia fazer mais trabalhos. E que bem que me soube ouvir essas palavras, e como eu anseio por esse momento.
Espero que daqui para o futuro, mais museus possam dar oportunidade ao Capela de expor o seu talento, para que possamos todos ver a floresta a crescer e as árvores de fruto a florirem.
Abraços para todos.
Filipe.
Olá, Maria.
Afirma que só pessoas mal resolvidas são capazes de rejeitar a sensibilização.
A Maria está a confundir tudo. Acha que algum de nós está contra que se sensibilize a sociedade civil?
A questão é, a forma como se faz.
Já lhe dei um exemplo que no meu ponto de vista seria muito mais produtivo, porque ia sensibilizar aqueles que têm responsabilidade no ordenamento das nossas cidades.
A Maria é capaz de acolher esta ideia? Que acha dela?
Também não me importaria de fazer de surdo, desde que fosse apenas por uns breves instantes! Lol. Mas eu que já estou consciente de algumas dificuldades vividas pelos meus irmãos surdos, não vejo nenhum proveito em fazer de propósito para ficar sem ouvir.
Desejo é que a moda não pegue, porque se começamos a brincar às deficiências, vamos ter muitos jantares para fazer, e como bem sabe isto anda em crise, não se pode ir a um jantar desses todos os dias!
Relativamente à minha analogia, o que eu disse é que um passeio de cadeira de rodas ia permitir aos participantes sentirem na pele as dificuldades dos cadeirantes. Quererem aceder a uma repartição pública e não poderem por causa das escadas, quererem caminhar num passeio e terem de ir para a estrada porque o mesmo se encontra obstruído, quererem ir à missa e muitas vezes as igrejas não terem rampas, e muito mais.
Repare, Maria, que essas dificuldades são bem reais e os nossos amigos paraplégicos, mesmo que se encontrem devidamente reabilitados e que aceitem a sua deficiência não as podem vencer.
Isso ao menos daria para que os políticos quando aprovassem os projectos, pensassem, que, bom, não podemos aprovar isto porque se não uma pessoa de cadeira de rodas aqui não entra!
Agora neste caso do jantar, o que é que as pessoas ficaram a saber. A diferença é que enquanto no caso dos paraplégicos, eles mesmo que queiram não conseguem fazer as coisas, por causa da incúria do poder político, mas os cegos conseguem colocar as bebidas no copo, conseguem comer, identificar os talheres etc.
O que eu queria ver por exemplo, era um desses participantes no jantar a preencher o livro de reclamações do restaurante! Pois mas isso eles não fizeram. Era giro que o fizessem, não era?
Ainda queria ver como é que alguém que tivesse responsabilidades, ia usar o livro amarelo.
Por isso refuto a acusação de estar a rebaixar os cadeirantes, muito longe disso. Esses sim é que precisavam que os políticos dessem uma voltinha na sua cadeira, a ver se ganhavam juízo.
Espero que tenha entendido a minha ideia. Devemos é sensibilizar para questões práticas.
A Maria tem um discurso estranho. E fundamento esta minha observação no facto de ter dito que quem está bem com o seu ego, nada importa, se foi efectuada missa ou jantar, ou se foi efectuada qualquer outra forma de sensibilizar quem quer que seja.
Quer dizer que agora, nós por ser cegos temos de concordar e aceitar todo o tipo de iniciativas.
Não podemos ter opinião, não nos podemos posicionar contra o que quer que seja, temos de adoptar uma atitude subserviente e submissa, e acatar aquilo que os outros pretenderem fazer por nós.
Saiba que infelizmente esse discurso foi apanágio de muitos sectores da sociedade civil.
Apesar de nos dias de hoje ser em menor escala, ainda não nos conseguimos libertar totalmente daqueles que não entendem nada da cegueira e que pensam que sabem o que é melhor para nós.
Imagine se a ordem dos advogados não fosse única exclusivamente gerida por advogados? Se a ordem dos médicos não fosse exclusivamente gerida por médicos, etc.
Parece que os cegos é que acham que não conseguem dar conta do recado, e imploram para que a solução venha de fora! Isso cara Maria está muito longe de fazer parte de uma mentalidade contemporânea, isso é voltar ao passado e ressuscitar velhos hábitos que eu imaginei estarem definitivamente postos na gaveta.
Saiba que, podemos ter opiniões divergentes, mesmo que eventualmente sejamos cegos inseridos na sociedade, de bem com a nossa vida, e com maturidade suficiente para abordar e encarar a cegueira de uma forma construtiva.
Esta argumentação que a Maria me sugeriu nesta sua mensagem, é a mais viva encarnação da tal mentalidade retrógrada que a minha amiga aludiu.
E já que estou com a mão na massa, pretendo esclarecer um possível mal entendido.
Quando manifestei a minha discordância por este tipo de iniciativas, não me inspirei obviamente na iniciativa do Algarve. Já me posicionei contra noutras ocasiões.
É muito salutar que as pessoas queiram sensibilizar, mas eu como cidadão com opinião e vontade própria, digo que ficava muito feliz se o caminho passasse por organizar outras iniciativas diferentes. Que fique claro que o meu objectivo não é destruir, mas ajudar a que futuramente se possam fazer outro tipo de eventos, esses sim para sensibilizar verdadeiramente o público alvo.
Nada tenho contra quem organizou esta iniciativa. Desejo que possam ter energia, motivação e vontade para abarcarem outro tipo de realizações mais profícuas.
Mas à outra passagem nesta mensagem da Maria que me deixa sinceramente tão ou mais preocupado.
A Maria diz que só se sentem sentimentos de comiseração e piedade, quem não tem a sua auto-estima bem trabalhada, porque quem tem jamais poderá sentir esse tipo de sentimentos! E volto a frisar pessoas imaturas é que vêm nos outros pensamentos que eles próprios sentem e tentam culpabilizar quem não os sente!
A Maria anda todos os dias na rua? Nunca presenciou aquele discurso lamechas do Ceguinho, do coitadinho, do Deus tira uma coisa mas dá outra, do era melhor morrer do que ser cego, como amigos meus já vivenciaram?
Bom realmente começo a pensar que a Maria vive mesmo noutro planeta!
Ou será que não é uma tentativa de mascarar a realidade? É que o problema é mesmo esse. O que nos torna realmente bons ou maus são sobre tudo as nossas práticas, porque se as palavras não baterem certo com as atitudes, estamos perante uma palavra vã.
Eu não tenho a mania da perseguição. Constato factos que qualquer cego que ande todos os dias na rua já viveu. Depois à um super proteccionismo mais refinado, mas o que eu raramente encontro é um tratamento em radical igualdade com os restantes concidadãos, e esse é em última instância o meu grande desejo e objectivo que pretendo que juntos possamos atingir.
Cumprimentos.
Filipe.
Cara Maria.
Veja que no diálogo comigo volta a içar a bandeira da maturidade.
Recuso isso terminantemente. Apesar de a Maria não me conhecer, deixe-me dizer-lhe que a minha amiga não é mais matura do que eu no que à consciencialização da cegueira diz respeito. Felizmente muitos à que pensam como eu, e devo dizer que mesmo que fosse eu o único a pensar dessa forma não influenciava nada a minha posição.
Imagino que a Maria Dias não é cega congénita, já pensou que o problema pode estar em si? Um cego congénito, que sempre fez a sua vida como cego, que sempre trabalhou no meio de normovisuais, e até já liderou grupos constituídos única exclusivamente por normovisuais é imaturo?
Se a Maria soubesse o quanto eu brinco com a cegueira ficaria altamente escandalizada. E digo isto porque os meus amigos normovisuais escandalizam-se bem mais da forma como eu abordo a cegueira do que os meus amigos cegos.
Recentrando a discussão no essencial. Já viu se agora começássemos todos a fazer passeios de cadeiras de rodas, a tentar perceber o que sentem na pele os nossos irmãos paraplégicos?
Imagina-se numa actividade onde todos fôssemos convidados a desempenhar o papel de surdos?
E creia que para os nossos políticos uma viagem de cadeira de rodas era bem mais produtiva do que um jantar às escuras.
Porque eles iriam ter de ir para os seus locais de trabalho, dar de caras com as viaturas nos passeios a obstruir a marcha da cadeira, ter de entrar em locais inacessíveis, e afinal terem de ficar à porta que o acesso é feito só por escadas, e muitas outras dificuldades.
E essas privações tanto sente um cadeirante reabilitado como um curioso que está a brincar aos paraplégicos.
Porque não se faz isso? Porque já se fizeram passeios de olhos vendados, e nunca se fizeram passeios de cadeiras de rodas?
Eventualmente, a Maria poderá pensar nisso se quiser.
Eu não digo que o objectivo de quem participa e promove estas iniciativas é rebaixar as pessoas cegas. O que eu digo é que essas actividades não trazem resultados práticos porque ninguém fica com a ideia do que é ser cego, e das dificuldades que um cego experimenta no dia a dia, e na pior das hipóteses fomenta nas pessoas normovisuais que participam nas iniciativas, sentimentos de comiseração e piedade.
Eu bem sei as limitações que tenho. Ninguém melhor do que eu me conhece, infelizmente para mim tenho outras limitações para além da cegueira, como sucede com todos. Mas limitações todos temos, e eu prefiro valorizar e potenciar as qualidades nas pessoas do que me centrar nas suas deficiências.
Tudo o que não seja tratar toda a gente de igual forma independentemente da sua deficiência ou da sua limitação é uma mentalidade medíocre e pré-histórica.
Deixe-me dizer-lhe que eu tenho amigos e amigas cegas que já por várias vezes foram abordadas na rua, onde lhes foi perguntado como davam um beijo à namorada, ou como praticavam relações sexuais. Infelizmente ainda temos gente em que cujo as suas preocupações andam por aí por esses campos.
Saiba também que já se tentaram fazer estudos, e dar-lhes uma importância quase que científica sobre as relações amorosas dos cegos. Já muitos artigos se escreveram sobre isso em revistas conceituadas.
Como se os casos e relacionamentos amorosos dos cegos fossem diferentes dos outros!
Olhe que o que eu disse na minha primeira postagem, que se nós cegos não ganharmos juízo, ainda vamos ter um aventureiro a propor que se faça algo mais intimo assim às escuras, para que os normovisuais saibam partes da vida íntima dos cegos, não está assim tão descabido. Experimente dar uma entrevista a um jornal ou revista sobre a sua vida pessoal e se deixar a conversa correr, há-de dizer-me para onde ela vai acabar por resvalar.
Finalmente. Quer uma ideia muito mais produtiva do que os jantares às escuras?
Fazer uma caminhada com pessoas cegas, que dominem as técnicas da mobilidade, pela baixa de uma cidade, e levar atrás, vestidos nos seus uniformes os engenheiros da respectiva câmara municipal responsáveis pelo planeamento urbanístico.
Cumprimentos.
Filipe.
Olá, amigos.
O problema dos jantares e das missas às escuras, e dos passeios com olhos vendados, deve ser visto sob o prisma da sensibilização dos problemas que os cegos enfrentam.
Assim, se considerarmos que o objectivo destas iniciativas passa por sensibilizar a sociedade civil, deixo uma pergunta no ar. Será que esse é o melhor caminho?
No meu ponto de vista não. Regra geral os normovisuais que participam nelas, e que tomam contacto assim a frio com a cegueira , ficam com a sensação que ser cego é algo de absolutamente monstruoso e limitativo.
E como todos sabem, uma pessoa cega reabilitada, executa na perfeição as tarefas que os normovisuais são convidados a executar neste tipo de encontros às escuras.
Se assim é, faço outra pergunta. Para quê este tipo de realizações? Para dar uma ideia sinistra da cegueira? É o que estamos a fazer!
Qual é o feedback que temos deste tipo de iniciativas? Os normovisuais que se vestem de cegos, não conseguem colocar líquido no copo, não conseguem partir a carne, não sabem muito bem como comer, por vezes não identificam nem os talheres nem o parceiro do lado. E agora, os cegos são todos assim? Os cegos diários não conseguem pôr as bebidas nos copos? Não conseguem identificar o colega do lado pela voz? É um sinal evidente que esses convidados mascarados de cegos não ficam a conhecer nem de longe nem de perto a realidade da vivência de uma pessoa cega.
E depois, que sensibilização estamos a querer fazer? Estamos a dizer às pessoas para fazerem a papinha toda aos deficientes visuais?
A verdade é que estas iniciativas podem ser mediáticas por estarem na moda, mas não trazem resultados palpáveis.
Penso que o esclarecimento passa por mostrar à sociedade questões práticas do dia a dia, mas em que os intervenientes sejam os próprios cegos. De uma vez por todas temos de fazer com que sejamos e estejamos integrados na plenitude. No meu vocabulário não existem os cegos e os outros, temos seres humanos e ponto final!
Se este texto humorístico servir para despertar as consciências, e nos ajudar a reflectir sobre o melhor caminho para valorizar a imagem das pessoas cegas junto da sociedade civil, então bem-dito seja ele.
Não embarco neste enxurro de críticas pejorativas ao texto. Concordo com a sua essência, porque na verdade se nós cegos não ganharmos juízo, ainda vamos ter um aventureiro a propor que se faça algo mais intimo assim às escuras, para que os normovisuais saibam partes da vida íntima dos cegos.
Olhem que isto daria uma boa capa de revista cor de rosa, e não iriam faltar curiosos a quererem saber como é que os cegos fazem certas coisas, sem verem!
Compreendo o argumento dos amigos que defendem que é preciso sensibilizar os normovisuais. Mas dessa forma não serve. Há Muitas formas e metodologias bem mais eficazes de podermos levar a carta a Garcia.
Um abraço para todos.
Filipe.
Olá, Ricardo.
Saúdo este teu blog. espero que vás actualizando este espaço periodicamente. Eu serei um leitor assíduo. Desejo que estes novos jovens estudantes que tiveram a coragem de vir partilhar neste site os seus textos, possam servir de exemplo para que outros jovens na mesma situação façam o mesmo.
Não tenham vergonha de mostrar o vosso trabalho.
Queria aproveitar para te dar um concelho. Em vez de anexares o ficheiro do word, cola o texto no corpo da mensagem. Assim no meu ponto de vista é mais fácil lermos as mensagens porque não precisamos de fazer o download de nenhum ficheiro.
Um abraço.
Filipe.
+Filipe Azevedo
Olá, Joana.
Gostei desta reflexão.
Demonstra uma atenção e preocupação pelos problemas da tua escola que eu saúdo. Tomara que todos fossem atentos, interventivos e fossem também parte integrante na resolução dos problemas.
A questão que falas dos caixotes do lixo, pode ser transportada para um número infindável de situações que dificultam a nossa mobilidade na via pública.
Temos as Cabines telefónicas com os respectivos orelhões, as caixas de electricidade, os piões que impedem os condutores de estacionarem os veículos etc.
Bastava que no caso por exemplo dos orelhões a cabine fosse inteira, e assim era detectável com a Bengala. No caso dos piões o perigo está nas bolas que estão na extremidade do pião.
À uma grande falta de sensibilidade para as questões da mobilidade para deficientes, e aqui até quem mais sofre são os utilizadores de cadeiras de rodas. Verifico que nas cidades fazem-se ruas pedonais, passeios muito grandes próprios para que os piões se movimentem à vontade, mas depois temos aberrações como os tais piões para que os carros não possam ser estacionados, as próprias explanadas colocadas sem nenhum critério, ora por fora do passeio ora por dentro, sinais que ficam dentro do passeio, quando poderia ficar ligeiramente de fora e muitas outras coisas.
E tudo isto que falei anteriormente não tem haver com questões financeiras, é apenas um problema de sensibilidade de quem faz as obras. Costumo dizer em tom de brincadeira que o problema está na visão feminista que os arquitectos têm! Ou seja, eles não podem ver um passeio amplo, têm de o enfeitar, ou com vasos, ou com piões, ou com postes e sinais, tem de ter qualquer coisa, passeio amplo é que não!
Concordo com a ideia de sinalizar provisoriamente os contentores onde decorrem as aulas, e também partilho da mesma opinião no que respeita à sala do aluno, de colocar os vasos e os restantes adornos num lado, fazendo com que o outro esteja completamente desobstruído.
Em relação às aulas de educação física, subscrevo as actividades que enumeraste, fazendo apenas uma ressalva e acrescentando talvez apenas mais um aspecto importante.
A ressalva prende-se com a competência de formar o professor de educação física. Isso penso que já está instituído e é da competência do professor do ensino especial. O mesmo se passa com os professores das outras disciplinas.
O elemento que eu queria acrescentar é o seguinte:
Os professores podiam estimular nos teus colegas normovisuais o treino de orientação. Regra geral eles aderem muito bem, e vai fazer-lhes muita falta ao longo da vida.
E aí se o professor quiser tem mesmo muitas aulas para trabalhar essa vertente, e aí tu própria estarias em igualdade com os demais, ou até num patamar ligeiramente superior, visto que a orientação é algo que já dominas.
Era muito interessante, isto para além dos restantes exercícios e actividades que tu enumeraste, e das quais repito concordo a 100 %.
+Filipe Azevedo
Prezado anónimo das 13 e 51 de 8 de Julho.
Queria esclarece-lo(a) do seguinte.
Quando diz que o site não é só para invisuais, bastaria ler a notícia à qual estamos a comentar para desmentir a afirmação.
A notícia foca apenas os invisuais, diz que é um sistema para eles. Eu como cidadão deficiente visual tenho o direito a opinar sobre uma coisa que pelos vistos foi feita a pensar em mim.
E eu quero acreditar que a ideia do Banif tenha sido mesmo criar um produto para cegos. Porque se a ideia foi aproveitá-lo para outros utilizadores e apenas se usam os cegos como destinatários, eu tenho de referir que se trata de propaganda enganosa.
Mas voltando ao que interessa. Não se esqueça que mais importante do que o serviço em si é a imagem que o Banif está a transmitir das pessoas cegas. E também não se esqueça que quando é lançado um produto para cegos, ou para costureiras, ou para cabeleireiras ou até para esteticistas, os destinatários do programa ou produto devem ser tidos em conta no momento da sua elaboração e posterior lançamento.
Se o Banif procurou uma instituição de deficientes, a culpa do banco é menor. Aí a instituição que aconselhou um projecto como este é que deveria ter sensibilizado os responsáveis do Banco para outro caminho que não este. Por isso quero deixar bem claro que aquilo que eu aqui critico é a ideia em si, pois desconheço por completo os moldes em que ela foi concebida.
+Filipe Azevedo
+Filipe AzevedoJá começo a ficar farto deste tipo de iniciativas. Pior do que estar a ficar farto disto é ter a sensação que por mais que se pregue no deserto, por mais que se grite que aquilo que se pretende não é criar soluções especiais, mas sim soluções integradoras, que sejam usadas de igual forma pelo comum dos cidadãos, à quem continue a pensar que mesmo na vertente da informática os deficientes visuais vivem num mundo à parte.
Já viram o quam disparatada é essa ideia? Já viram como seria se as empresas começassem a criar sites alternativos para cegos? Muitas dessas empresas não iam ter capacidade de resposta, porque isso implicaria de grosso modo criar duas páginas em simultâneo.
Isto é só um exemplo. Existem muitos outros. Neste caso concreto o que temos? Temos um banco que gastou tempo, recursos e dinheiro na criação de um sistema alternativo para que os cegos possam aceder ao banco. Assim de repente a primeira coisa que eu diria é que fizeram um trabalho inútil. Estariam de parabéns sim se tornassem o site principal acessível, e não tivessem criado um sistema alternativo. O caminho é por aí! dêem-se as voltas que se der, enquanto todos não perceberem que o acesso às novas tecnologias tem de ser universal e não segregado, vamos andar aqui a criar soluções de acesso, um dia é para cegos, outro dia é para tetraplégicos, outro dia é para idosos, em fim, daí a pouco um banco tem de criar 3 ou 4 sites paralelos para garantir acessibilidade a todos. Não será bem mais simples adoptar as normas de acessibilidade presentes no w3c, e tentar criar um só site que possibilite o acesso de todos?
E meus amigos, isso é possível! Deixem de ser preguiçosos, investiguem e verão que é bem mais simples criar uma página acessível, que muitas vezes para além da sua acessibilidade acaba por ser bem mais funcional e estética do que andar-mos aqui a fazer de conta que se criam páginas acessíveis para os info excluídos.
Em suma, só o facto de se tratar de uma página especial é altamente redutor. Mas temos a tal situação que, se não estivesse em causa um assunto demasiado sério seria motivo para uma enorme gargalhada.
Os deficientes visuais têm agora à sua disposição um serviço alternativo de voz que lhes permite aceder ao conteúdo da página apenas com 3 teclas. Mas tem uma questão, questão essa de pouca importância, dirão os mentores da página! Os utilizadores cegos podem fazer tudo menos movimentar a sua conta. Não podem: Carregar o telemóvel, consultar o saldo, fazer pagamentos de serviços e pagar as suas facturas. Não resisto em perguntar. Para que serve um site de um banco? Desculpem mas não resisto em imaginar este cenário. Temos um menu de voz que diz mais ou menos assim.
Bem-vindo ao Banif. Gostava de carregar o telemóvel? Gostava de saber o saldo que tem na sua conta? Gostava de pagar a sua factura? Gostava, não gostava? Pois gostava mas não pode! Dirija-se por favor à agência mais próxima!
Espero que ao menos numa situação destas coloquem um anúncio de voz a dizer mais ou menos isto: Pedimos desculpa pelo tempo que roubamos.
Sei que neste fórum muitos dos visitantes são pessoas normovisuais, e que poderão a esta hora estar a dizer: Estes senhores nunca estão bem com nada! Se não se faz é porque não se faz, se se faz algo está mal feito. Mas meus caros, não devem pensar assim. Eu digo que está mal feito e explico porquê. Pensem só um pouquinho. Porque é que na criação e implementação de muitas das soluções concebidas para os deficientes, estes não são tidos nem achados? Se conseguirem meditar bem neste aspecto talvez se consiga entender porque é que muitas das coisas que supostamente são lançadas para benefício dos deficientes cumprem um efeito oposto daquele que seria o desejado.
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