o desalinhamento dos eixos visuais pode levar a ambliopia
Para além de ser inestético, o estrabismo pode levar ao chamado «olho preguiçoso», uma situação reversível apenas se for tratada precocemente.
O estrabismo é a ausência de alinhamento entre os olhos, que devem estar orientados para o mesmo ponto de fixação, em todas as posições e movimentos.
Em condições normais, os músculos que fazem mover os olhos trabalham de forma coordenada, permitindo uma visão binocular e a noção de profundidade, percepção tridimensional ou estereopsia, uma vez que o cérebro funde as imagens dos dois olhos e as interpreta como uma só.
Se os olhos não se dirigem exactamente para o mesmo ponto de fixação, o cérebro percepciona duas imagens do mesmo objecto que não consegue fundir e o indivíduo tem visão dupla, diplopia.
O estrabismo, para além de impedir a percepção tridimensional, pode levar a que o olho desviado perca, ou não desenvolva, função visual.
Isto porque o cérebro poderá optar por eliminar a mensagem do olho desviado para não estar em constante duplicidade de estímulos.
Esta situação pode levar ao chamado «olho preguiçoso», ou ambliopia, que se caracteriza pela perda de acuidade visual, não por razões orgânicas, mas por falta de utilização.
Para a Dr.ª Teresa Fonseca, oftalmologista do Hospital de Garcia de Orta, a ambliopia tem de ser evitada.
«Do meu ponto de vista, esta é a principal preocupação. A ambliopia só é reversível durante a infância.»
«Quando se enraíza, é muito mais difícil fazer a recuperação da função visual», alerta a médica, que aponta para os 7 anos a idade máxima para tratamento desta disfunção, embora se deva tentar até aos 10 anos.
O estrabismo aparece quase sempre em idade infantil, mais frequentemente nos primeiros anos, e pode estar presente à nascença. Quando acontece na idade adulta, está associado a outras patologias, nomeadamente, do foro neurológico.
O desenvolvimento da visão acontece nos primeiros meses de vida e depende da qualidade do estímulo visual. Por isso mesmo, a criança deve ser examinada desde a nascença.
Quando há suspeita de estrabismo, impõe-se fazer um exame oftalmológico para excluir a presença de lesões orgânicas, prescrever a correcção óptica necessária, detectar e tratar precocemente a ambliopia e avaliar a possibilidade de correcção cirúrgica.
Estrabismo:
quanto mais cedo melhor
«É importante sublinhar que a análise de um estrabismo pode ser feita em qualquer idade», frisa a especialista. Aliás, o tratamento terá mais sucesso quanto mais precoce for o seu início.
Do exame oftalmológico faz parte a avaliação da acuidade visual. Dependendo da idade, os testes à acuidade visual são diferentes.
Nos primeiros tempos de vida, cabe ao especialista interpretar os resultados de testes específicos, sem a participação verbal da criança. Quando já fala, existem outros testes calibrados que solicitam à criança a interpretação do que vê e permitem a avaliação de níveis de acuidade visual.
A partir dos 3 ou 4 anos utiliza-se, por exemplo, o teste dos «Es», tendo as crianças de dizer, ou apontar, para onde estão voltadas as «perninhas» daquela letra, apresentada em diferentes posições e tamanhos gradualmente mais pequenos.
O ponto em que deixam de conseguir distinguir a posição das «perninhas» corresponde a uma determinada acuidade visual.
O teste mais vulgar para detectar um estrabismo é o cover test, em que se chama a atenção da criança para um objecto e se vê se os olhos estão a olhar na direcção do mesmo. Tapando alternadamente um dos olhos, observa-se se algum deles se desvia para retomar fixação.
O exemplo de um teste para aferir a noção de profundidade é o teste de esteroacuidade da «Mosca de Titmus», em que a criança tem uns óculos especiais e um cartão com a imagem de uma mosca de asas abertas.
Perante a indicação de agarrar as asas da mosca, se tiver visão tridimensional, a criança vai tentar apanhar as asas da mosca acima do plano do quadro, caso contrário, vai apanhar a asa da mosca no plano do quadro.
Do exame oftalmológico faz parte a instilação de colírios que dilatam a pupila, permitem a observação do olho no seu interior e a avaliação do seu estado refractivo.
Assim, pode excluir-se lesão orgânica intra-ocular e prescrever a graduação necessária para que o olho veja com nitidez e sem esforço.
«Quando o estrabismo é puramente acomodativo, apenas dependente do esforço de focagem, o tratamento do desvio passa pela correcção óptica. Continua a ser importantíssimo tratar a parte sensorial, para evitar a ambliopia, e depois fazer a correcção cirúrgica, se necessário», diz Teresa Fonseca.
O tratamento cirúrgico consiste na mudança da posição, enfraquecendo ou reforçando determinados músculos para permitir o equilíbrio entre os dois olhos. Em alguns casos, a cirurgia pode ser substituída pela aplicação de Botox (toxina botulínica) num músculo para o enfraquecer, causando uma paralisia desse músculo.
Estrabismo:
o problema das oclusões
Detectado o estrabismo e identificada uma ambliopia, é necessário, depois da eventual prescrição de óculos de correcção, levar a cabo a terapia por oclusões.
Esta terapia consiste em tapar, alternadamente, um e outro olho com um penso, durante um determinado período de tempo. Assim, o olho que entorta (um só, ou ambos, conforme o caso) é obrigado a olhar a direito e a função visual é desenvolvida.
«Esta é uma coisa que perturba muito os pais, mas ainda não se descobriu nada melhor para prevenir e tratar a ambliopia», salienta Teresa Fonseca.
Juntamente com a graduação dos óculos, a criança, após algum tempo, irá melhorar a acuidade visual.
Porém, segundo a especialista, «é muito complicado, pois, a criança não gosta de pôr o penso e os pais têm o desgosto de ver o filho de olho tapado. Mas pode ser a diferença entre uma acuidade visual de 2/10 e a normal de 10/10».
Em princípio, o penso deve ser mudado todos os dias e os períodos de oclusão de um olho podem ir até uma ou duas semanas de cada vez, ou mais.
Entre outros factores, estes períodos variam conforme a idade da criança: uma vez que a oclusão de um olho pode impedir o desenvolvimento da sua acuidade, as crianças abaixo dos 4 anos, ainda em fase de desenvolvimento visual, têm de alternar a oclusão dos olhos muito mais amiúde.
O programa de oclusões pode estender-se durante anos.
«Aviso sempre os pais que é maçador, desgastante, dá origem a guerras e muitas vezes é necessária muita paciência», conta a oftalmologista.
Todos os membros do universo da criança, dos pais aos avós, passando pelos professores e amigos, têm de ter noção de que o penso é absolutamente necessário em todas os momentos para que o tratamento tenha sucesso.
Pequenas excepções da oclusão, como na praia ou na piscina, podem provocar recaídas difíceis de tratar.
Depois, coloca-se o problema da integração da criança, que se sente triste por usar penso e é alvo da incompreensão dos colegas, mas a médica diz que, «felizmente, as educadoras e professoras já estão mais conscientes do problema e promovem a integração da criança».
Se todos persistirem, estabelecendo laços de cooperação com a criança, concluirão que vale a pena, porque esse esforço pode fazer a diferença entre visão baixa e uma visão normal. Uma ou outra ficarão para toda a vi
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