Sou funcionária de um serviço público que foi forçado a mudar de instalações
O processo de mudança decorreu obscurecido por um secretismo incompreensível, sendo vedado o acesso a qualquer informação.
Ao longo do tempo, escassas e vagas informações foram sendo libertadas a conta gotas.
Sem informação válida, com muitas dúvidas e receios, comecei logo cedo a alertar para as minhas dificuldades e necessidades especiais, dando a conhecer a lei das acessibilidades para que se suprissem eventuais barreiras arquitectónicas que dificultassem a minha integração no novo espaço para onde iria o nosso serviço.
Muito receptivas e concordantes com tudo o que lhes transmitia, as pessoas a quem me dirigia prometiam ajudar em tudo o que estivesse ao seu alcance....
Mudanças previstas e eu não fui consultada por ninguém especializado, um técnico de mobilidade, um técnico de qualquer coisa , ou de coisa nenhuma pois, na verdade, fui totalmente ignorada.
Mudanças feitas, desespero meu....
Apenas me deram a conhecer o meu novo gabinete, casa de banho e relógio de ponto, aliás, o que interessa...
Nem sequer sei trabalhar com o meu principal instrumento de trabalho, o telefone, pois a formação começou pelos outros funcionários e eu, desde há semana e meia, fiquei para último...
Agora, estou como tennho estado este tempo todo: sentada, esperando , ouvindo o silêncio dos meus três companheiros de sala.... três belos telefones, todos diferentes mas todos iguais.... uns pretos, outros brancos, uns maiores e outro mais pequeno mas todos mudos....
Apenas este fiél amigo Jaws continua a quebrar este silêncio perturbador com uma voz que outrora horrível hoje me parece bastante sedutora....
E até entrar e sair do edifício é uma dôr de cabeça pois as barreiras arquitectónicas são mais que muitas e a lei claro que de nada serve pois ninguém quer saber dela .... mas ela existe para inglês ver: Portugal é muito civilizado e solidário, que bom....
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