INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE ESTUDOS SUPERIORES ESPECIALIZADOS EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Dissertação
Orientada por:
Dr.ª Maria de Lurdes Pereira
ALUNO: Leonardo Cunha da Silva
PORTO, 1998
INTRODUÇÃO
A razão de ser da escolha do tema para esta dissertação assenta essencialmente, na necessidade de aprofundar o estudo de um novo recurso cada vez mais presente no panorama escolar, o computador, bem como, as vantagens do seu uso na Educação em geral e especificamente na Educação Especial.
Nos tempos actuais, as Tecnologias de informação conhecem progressos cada vez mais espectaculares, permitindo ao Homem "ver mais longe e mais perto, na distância e no tempo, com toda a precisão e rapidez" (Moderno, 1992, p. 11). Inevitavelmente como já antes havia acontecido com o aparecimento e generalização do livro, esta mudança de suportes de comunicação provocou e continua a provocar alterações processuais nas formas de ensinar e nos processos de aprender.
Já desde finais da década de 50, e no campo da utilização do computador em Educação, o ensino programado de Skinner desencadeou a geração dum paradigma de ensino - o ensino assistido por computador que, privilegiando um diálogo reactivo com o aluno, reforçou, paradoxalmente a natureza unidireccional, clássica, da mensagem pedagógica. Em meados da década de 60, o projecto Logo de Papert emergiu como o movimento mais representativo de um novo paradigma de ensino - bidireccional ou interactivo, privilegiando ambientes criativos de aprendizagem caracterizados pelo desenvolvimento de estratégias de ensino flexíveis em que o aluno, interagindo com o computador, com o professor ou com os outros alunos, procurava executar tarefas de aprendizagem e resolver problemas.
Em termos mais latos, o considerável aumento da interactividade dos sistemas e da transparência das interfaces permitiu uma crescente aproximação entre o utilizador e o computador conduzindo a tecnologia ao seu verdadeiro papel de instrumento de trabalho e relegando para plano inferior as preocupações de índole tecnológica.
Apesar da evolução dos paradigmas de ensino para sistemas interactivos, em que o aluno passa de receptor passivo da mensagem a agente activo da comunicação enfatizando-se a relação professor-aluno e aluno-aluno, tudo se desenvolve em torno ou a partir do professor como eixo transmissor ou organizador da mensagem pedagógica.
A rápida evolução a que temos vindo a assistir nos domínios económico, político, científico, tecnológico e cultural em todo o mundo impõe, necessariamente, modificações a nível da educação formal, ou seja, da escola. Neste sentido, a escola tem necessidade de se renovar em cada dia que passa, caso contrário corre o risco de não ser suficientemente atractiva e formativa para os jovens de hoje, com necessidades e interesses adequados à época em que vivem e que é uma época altamente tecnológica.
Se tentarmos fazer uma rápida retrospectiva do que tem sido o processo educativo, verificamos que a escola tem sofrido grandes modificações nos últimos anos grande parte das quais resultantes da constante evolução da tecnologia. Para o comprovar basta que pensemos, como indica Machado (1992), em toda a evolução que ocorreu desde o modelo socrático de ensino, cujo suporte utilizado consistia unicamente na oralidade, até à actualidade em que temos como suporte do processo de ensino e aprendizagem uma grande diversidade de equipamentos tecnológicos.
O aparecimento do livro foi, com certeza, uma das inovações que mais modificações viria a produzir em todo o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que o conhecimento passa a surgir "como entidade autónoma e independente do professor (...) acarretando a diminuição do poder do professor. De detentor exclusivo do conhecimento passa a reprodutor, a interpretador do conhecimento detido pelo autor do livro." (Machado, 1992, p. 4).
Durante as décadas de 50 e 60 verificaram-se grandes modificações a nível tecnológico, surgindo uma primeira geração de recursos audiovisuais que "apesar das suas funcionalidades rudes e primitivas (...) tinham como objectivo facilitar a vida do professor na apresentação do conhecimento aos alunos." (Machado, 1992, p. 5).
Nas décadas de 70 e 80 surgem outros equipamentos, cada vez mais sofisticados do ponto de vista técnico e, também, com potencialidades para serem utilizados em contexto educativo. Entre eles conta-se o computador.
Apesar desta grande diversidade de meios tecnológicos existentes na escola, verifica-se que a sua utilização tem seguido, ao longo dos tempos, um modelo de comunicação essencialmente unidireccional (Dias, 1992) centrado no professor que transmite a informação. Nesta perspectiva, pode-se considerar que estes meios têm sido sobretudo utilizados "como prolongamentos tecnológicos do discurso do professor" (Dias, 1992, p. 58), facto que é sintetizado por Malpique (1991) da seguinte forma:
A introdução na escola duma nova tecnologia não foge à regra: faz-se, com o novo meio, de maneira um pouco diferente, o mesmo que se fazia antes. Adicionando-se à estrutura conservadora da escola mais um instrumento de trabalho (p. 434).
É, no entanto indiscutível que, de todos os meios tecnológicos à disposição do professor, o microcomputador foi o que teve um dos mais importantes impactos a nível da escola tendo desencadeado grande número de discussões, estudos e investigações. Uma das razões para que isso tenha acontecido é, como defende Machado (1992), o facto de se tratar de "uma tecnologia que entrou rapidamente na escola, quase que ao mesmo tempo que na sociedade em geral (p. 7), e, também segundo o mesmo autor, porque "os programas de introdução da informática na escola visaram pôr os microcomputadores nas mãos dos alunos" (p. 7), deixando assim de ser apenas um meio que o professor utiliza para transmitir o conhecimento.
O computador tem um papel importante na modificação de atitudes dos professores, em especial, no que se refere à transição dos modelos de ensino centrados no professor para modelos cada vez mais centrados no aluno.
Hoje em dia, é já um lugar comum dizer que o computador, por si só, funciona como um elemento de grande motivação para o aluno e, consequentemente como um incentivo à descoberta e à aprendizagem. Tão-pouco será original, afirmar que a utilização no ensino das Tecnologias de Informação e Comunicação e, nomeadamente, do computador contribui para a inovação da prática educativa. Apesar de tudo isso, um elevado número de professores continua a confrontar-se com sérias dificuldades não se aventurando a utilizar o computador em contexto educativo. Estou convencido que se o professor tiver à sua disposição software educacional de fácil utilização técnica, algumas dessas dificuldades serão minimizadas, o que se traduzirá numa modificação de atitude perante o computador e, em consequência, numa modificação da prática educativa.
Claro que a resposta ao problema da introdução do computador em contexto educativo não se circunscreve, de algum modo, ao software, antes abrange um conjunto de aspectos que vão desde a atitude do professor, da sua formação técnico-pedagógica, até às condições organizativas da escola.
O computador está longe de ser a panaceia que resolve todos os problemas com que a escola se debate, será mesmo mais um problema a exigir um esforço suplementar dos professores no sentido de (re)adequar as estratégias de ensino, pois é bem verdade que "o melhor computador não terá qualquer efeito no processo educativo sem um professor capaz de estruturar, modelar, guiar e facilitar o processo cognitivo de acordo com as necessidades individuais dos alunos" (Sequeira, 1989, p.99). Este pressuposto ganha mais ênfase quando se trata de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE). Partilho, em absoluto, esta ideia e rejeito a de que o computador possa vir, algum dia, a substituir o professor. Aliás, as discussões a propósito da substituição do papel do professor pelos recursos educativos que vão surgindo ao longo dos tempos não se limitam ao computador, como podemos verificar pela seguinte afirmação de Sari e Reigeluth (1982), no que respeita aos manuais escolares:
É improvável que a qualidade de um manual escolar elimine a necessidade do professor; ele vai é conduzir a uma modificação do papel do professor (p.56).
Parte I - Fundamentação Teórica
Os tempos actuais são tempos de profundas transformações tecnológicas. A rápida evolução e difusão de novas tecnologias, em particular as associadas aos computadores estão a alterar significativamente não apenas os processos de produção de bens materiais, mas também os processos de difusão das experiências e, consequentemente, os modos de viver em sociedade. Este ritmo evolutivo em termos tecnológicos é acompanhado (e possibilitado) por um volume crescente do conhecimento humano nas mais diversas áreas do saber. Nunca como hoje, se tornou tão necessário o desenvolvimento de capacidades ao nível da gestão e manipulação de informação, de modo a permitir uma interacção eficaz com o mundo que nos rodeia.
A sociedade de futuro será "uma sociedade que verá, provavelmente, o seu sucesso baseado na capacidade de acesso e tratamento/organização de informação" (Freitas, 1992a,p.30). Uma sociedade em que mais do que saber, interessa aceder à informação - a aumentar em cada dia que passa - e saber trabalhá-la formulando perguntas inteligentes.
Cada vez mais as pessoas terão necessidade de partilhar experiências, informações e conhecimentos. Na minha perspectiva, dada a complexidade e especificidade de algum hardware e software, esta troca de experiência entre pessoas portadoras de deficiência é também enriquecedora. Aos mais diversos níveis - local, regional, nacional, internacional e mundial - os desafios que se colocam à sociedade exigem competências de gestão, organização e manipulação de informação, aliadas a um forte espírito de solidariedade e de cooperação. Trabalhar em cooperação, ser o nó de uma rede humana, é a oportunidade de partilhar experiências e ter acesso a novo "Know-how" sobre certos domínios. Neste sentido, apontam as palavras de Figueiredo e Steele (1992) quando afirmam:
"(...) é agora largamente reconhecido que, nos domínios em rápida transformação, como os relacionados com a educação e a formação, a informação mais útil e actualizada não se encontra nas bases de dados, mas antes na memória colectiva dos grupos de utilizadores que operam nesses domínios" (p.13).
Neste contexto o acesso a redes de comunicação à distância poderá significar a interacção directa com especialistas de determinadas áreas do conhecimento, onde os utilizadores dessas redes "(...) podem pedir assistência e onde podem receber, de outros utilizadores, quer respostas que satisfaçam as suas necessidades, quer sugestões sobre o local onde podem encontrar a informação ou parecer especializado que procuram" (Figueiredo e Steele, 1992, p.13). A este nível, e adoptando as palavras de Freitas (1992a), "a humanidade terá nas novas tecnologias da informação e comunicação um auxiliar precioso no sentido de uma verdadeira disponibilização da informação por todos" (p.30).
Viver numa sociedade cada vez mais alicerçada em poderosas redes de comunicação, implica novas mentalidades, novas destrezas e novas exigências; permitindo estabelecer novas conexões entre as tecnologias mais prometedoras tendo em vista as necessidades de formação para a sociedade dos anos 90 e do próximo milénio.
Nos últimos anos, muitos sistemas de ensino tem vindo a repensar os seus objectivos e modelos de funcionamento, procurando renovar-se e adaptar-se às novas exigências da sociedade actual. De entre os factores que têm tornado necessário um repensar da escola, contam-se os rápidos desenvolvimentos tecnológicos a que estamos a assistir na sociedade e que, por um imperativo desta, se têm repercutido, de alguma forma, na prática educativa.
Neste contexto, é de salientar a necessidade das novas tecnologias para os alunos com NEE, de modo a que não fiquem excluídos destes progressos tecnológicos.
Capítulo 1
As tecnologias de informação e comunicação e o ensino/aprendizagem
1.1. As Tecnologias de Informação e Comunicação e o Ensino - Aprendizagem
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) invadiram as nossas escolas num curto espaço de tempo e prometem ficar devido à importância que lhes é atribuída. Mas por que razões é que elas são importantes? Hawkridge (1990) faz uma resenha dessas razões e aponta como fundamentais quatro princípios:
- Razões sociais - as crianças devem ser preparadas para agir numa sociedade cada vez mais movida pelas tecnologias;
- Razões vocacionais - as crianças devem ser preparadas profissionalmente (dominarem as tecnologias) para vencerem nessa mesma sociedade tecnológica;
- Razões pedagógicas - possibilidade de melhoria dos processos de ensino - aprendizagem;
- Razões catalisadoras - a utilização do computador pode acelerar outras inovações educativas, com mais ênfase nos processos de ensino - aprendizagem que valorizam a cooperação mais que a competição, a resolução de problemas e reflexão e não tanto a memorização.
No entanto, até que a integração dos computadores com objectivos construtivistas na escola sejam uma realidade, na maioria dos casos, há ainda um grande caminho a percorrer. Os obstáculos são ainda muitos, Akker, Keursten e Plomp (in press) depois de reverem investigações feitas, concluíram que: o contexto social, a organização escolar, os suportes externos e as características inovadoras do produto eram os principais entraves para uma utilização eficiente.
- Contexto social - necessidade de investimento em equipamentos; desenvolvimento de programas informáticos educativos; formação de professores; falta de empenhamento por parte das hierarquias superiores ligadas à educação; reformulação de currículo, etc..
- Organização escolar - as dificuldades surgem quando não existe encorajamento por parte da administração das escolas, principalmente, em não facilitar a participação em formação, aquisição de equipamentos e programas, reorganização de horários, salas, etc.; quando os professores não estão receptivos às novas ideias e experiências; quando não existe um coordenador de informática e também quando não existem contratos de manutenção de equipamentos e programas.
- Suporte externo - os cursos de formação contínua pecam por dar quase que unicamente relevo aos aspectos técnicos em vez de ajudar os professores com a integração dos computadores no dia - -a-dia da escola, com conhecimentos de selecção e avaliação quer de programas informáticos, quer de desempenho dos alunos. E por último, os professores não têm suportes que os ajudem a ultrapassar os problemas criados pelas novas relações professor/aluno.
- Características inovadoras - aqui levantam-se questões relacionadas com as vantagens e desvantagens que os computadores trazem para o processo de ensino - aprendizagem; com a qualidade dos programas informáticos educativos; que tipo de rácio é que se pode esperar quando se medem benefícios actuais versus custos em pessoal e organização.
Mas não só, o uso correcto dos computadores na educação requer, principalmente, uma aproximação psicológica na qual professores e alunos sejam sensibilizados para as diferenças individuais de aprendizagem, numa nova postura quer de uns quer de outros. Os alunos também têm de compreender a sua nova posição - responsáveis pela sua aprendizagem. Os professores têm que mudar as suas atitudes pedagógicas, o seu objectivo deve ser o de construtor de conhecimento, isto é, ajudar os alunos a apropriarem-se dos seus conhecimentos, construírem eles mesmos os seus mapas de conceitos e conduzirem as suas próprias explorações, prepará-los para a aprendizagem permanente, fomentar neles valores que conduzam à satisfação pessoal e que sejam socialmente construtivos porque isto dá-lhes poder e motiva-os.
Partindo do pressuposto de serem as soluções de tipo informático as mais aceitáveis para as respostas necessárias à Integração/Reabilitação de pessoas com deficiência e sendo um dado da literatura (P. Molloy; Barbara Baskin 1994-95), que este tipo de soluções provocam modificações comportamentais no sujeito, procura-se com este trabalho mostrar-se alguns efeitos dos mesmos.
1.2. O Ensino/Aprendizagem
O desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação nos últimos anos, veio trazer aos modelos tradicionais da aprendizagem ou, melhor dizendo, do Ensino/Aprendizagem um conjunto significativo de alterações, quer quanto aos suportes materiais, quer quanto às metodologias, quer ainda quanto aos modelos conceptuais da aprendizagem que já estão a produzir os seus efeitos e que vão ter nos anos mais próximos nomeadamente, no dobrar do milénio, repercussões de grande impacto na prática pedagógica.
Por outro lado, o desenvolvimento da abordagem social de crianças com problemas provenientes de deficiências (P. Molloy, 1994) vai fazer aumentar, obrigatoriamente, o número de alunos nessas condições, a integrar o sistema regular de ensino. Este fenómeno de integração, como metodologia de resolução de problemas ligados à aprendizagem de crianças e jovens com deficiências, tem vindo a ser cada vez mais adoptado em todo o mundo, dentro da chamada escolaridade regular, com resultados positivos. Como consequência lógica, os educadores irão ver aumentar as suas necessidades de "saberes", no que diz respeito, quer às componentes físicas quer psicológicas, quer no domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação, componentes essas que, provavelmente, condicionarão de forma mais correcta os processos de aprendizagem desses mesmos alunos.
Esta última questão - dos saberes ligados às TIC - não é de modo nenhum apanágio deste tipo de alunos. Qualquer um que esteja sujeito à aprendizagem em qualquer modelo de aprendizagem, ao sentar-se a um terminal a estudar em função dos seus interesses, sem fragmentação dos saberes, ampliando o papel da aprendizagem pela descoberta (Ausubel, 1980) em detrimento das aprendizagens mecânicas, está a criar um novo modelo de relação educativa que alterará o sentido do espaço-aula e dos actores do processo educativo. Este fenómeno, aliás, já se encontra no terreno, de modo até pouco subtil e tem vindo a criar um debate cada vez maior acerca das suas consequências.
Nestes termos, não repugna aceitar, que o recurso aos meios informáticos para apoiar a aprendizagem das pessoas com deficiências, é bom, é útil, é mesmo uma ferramenta imprescindível que nos habituamos a considerar como a solução para uma grande parte dos problemas que se colocam nesta área, tão complexa, do desenvolvimento humano e social.
Existem autores que vão mesmo mais longe ao dizer que (Rebecca Penso; 1992) dados os problemas de integração (sociais e profissionais) que os sujeitos da aprendizagem com dificuldades específicas possuem, precisam de desenvolver competências não apenas académicas, mas sobretudo as ligadas ao mundo do trabalho. Compreende-se então como se torna fundamental a utilização dos meios informáticos, se aceitarmos este último elemento como uma componente significativa das aprendizagens necessárias a este tipo de sujeito. Parece ser um dado adquirido que a utilização dos computadores nesta área, ou melhor dizendo, soluções de equipamento e aplicações, vieram trazer um conjunto de ferramentas poderosas que permitem abordagens de problemas nunca antes tentados e que se têm revelado profundamente eficazes.
Existem hoje soluções técnicas que permitem aumentar "realmente" a capacidade de execução de tarefas por pessoas deficientes. Essas tarefas são hoje cada vez mais eficazes pelo recurso às TIC e sobretudo pela aplicação da tecnologia de controlo de interruptores simples, que podem ser manuseados de forma extraordinariamente eficaz. O controlo de som e imagem que hoje possuímos, faz com que os deficientes sensoriais tenham ao seu dispor ferramentas de trabalho completamente impensáveis há cerca de dez anos atrás.
O que se pode dizer da importância de um estudo deste tipo, tem a ver com a análise que cada educador (leia-se "responsável por um processo de Ensino/Aprendizagem") tem, necessariamente de fazer para conseguir adaptar as melhores soluções a cada situação real. Se isto é verdade para qualquer tipo de aprendizagem e para qualquer tipo de sujeito, por maioria de razão, se aplica aos deficientes, dados os desvios que normalmente possuem, em termos de comportamento.
Capítulo 2
O papel do computador na educação
2.1. O Computador No Ensino
Desde sempre o homem tem tentado dominar o meio em que vive. Para isso criou utensílios, domesticou animais e construiu máquinas que o ajudassem nessa tarefa. Pode-se afirmar que desde o aparecimento do ábaco (passível de ser considerado como a primeira máquina de calcular), com o qual se pode executar as principais operações aritméticas e que curiosamente continua a ser usado nos países orientais e alguns países de Leste (antigas repúblicas ex-soviéticas) concorrendo com as máquinas de calcular, até aos modernos computadores de hoje, a evolução tem sido considerável.
Na sequência de intervenções que tiveram lugar, o computador aparece como a descoberta mais significativa e transformacional da era moderna.
Desde o seu aparecimento que o homem não cessou de o aperfeiçoar, introduzindo nas fábricas, nos escritórios, nos serviços, nas escolas e até mesmo nas casas de cada um.
A motivação para introduzir os computadores nas escolas tem objectivos sócioeconómicos e políticos. Preparar os futuros cidadãos para o trabalho ou para o lazer, na sociedade da informação.
O decorrer dos tempos e as convulsões sociais têm, aos poucos contribuído para o aumento da população escolar que, em simultâneo, se tem alargado, um tanto indiscriminadamente, às classes social e culturalmente mais arredadas das letras. Esta situação propiciou a heterogeneidade da população escolar que acolhida por uma instituição, regra geral economicamente desfavorecida e arreigada a modelos escolares conservadores, não conseguiu criar as condições capazes de se sobreporem às diferenças sócioculturais dos indivíduos e asseguradoras do sucesso escolar de todos quantos a frequentam. Concomitantemente, tornou-se obrigatório um período de escolaridade que tem vindo a ser aumentado, sem que a Escola tenha revisto, de forma concludente, a sua forma de ser e de estar. Tal facto tem-se reflectido, de um modo geral, no agravamento das taxas de não aproveitamento, traduzido pelas reprovações escolares, e pelo aumento da taxa de abandono escolar.
Vivendo-se, no final deste século, o início de uma nova Era, a das Novas Tecnologias (da informação e da comunicação), e quando os Sistemas Escolares apostam, na sua quase totalidade, em Reformas Educativas conducentes a estudos que, com maior ou menor pendor interdisciplinar, por um lado, conduzam a situações mais próximas da realidade vivida pelos alunos, e por outro, incidam na utilização e exploração dos meios informáticos. Cabe aos professores, no seu conjunto, a realização de experiências que de forma interligada possam servir de ponto de partida e base de trabalho a um outro tipo de ensino que se pretende, realmente, novo.
O computador apresenta um conjunto de características que o tornam bastante adequado às tarefas do processo de ensino e aprendizagem, (Blanco, Dias, Silva, 1989) de que se destacam a:
- Disponibilidade - como qualquer aparato electromecânico, inerte, necessita de energia para se tornar operacional. Desde que ligado e após uma primeira sequência interna de instruções/operações coloca-se à disposição do utilizador;
- Interactividade - pelas características físicas da própria máquina é facilmente perceptível que qualquer trabalho a desenvolver com o computador (mesmo considerando o modelo mais tradicional, unidade central de processamento, monitor e teclado) obriga a uma actividade actuante sobre diferentes canais sensoriais do operador. A imagem, por vezes acompanhada de som, e o tacto, apelam à atenção do indivíduo estimulando um quase diálogo; a interactividade entre o homem e a máquina (Tucker, 1988) - facilitadora da percepção e retenção da informação manipulada. Esta característica tenderá a tornar-se cada vez mais dialogante uma vez que as investigações desenvolvidas são efectuadas no sentido de possibilitar a interacção verbal. E se como dizia Aristóteles, citado por Moderno (1985, pág. 77), "nada está no intelecto sem que primeiro tenha passado pelos sentidos", então o computador pode ser um bom propiciador desta passagem, quando bem utilizado;
- Capacidade de memória - colocando de lado os aspectos psicológicos subjacentes ao conceito de memória humana, ou os aspectos técnicos que encaram e enformam o conceito de memória dos computadores, aqui entende-se, de forma global, a memória como a capacidade de armazenamento e processamento de dados com função informativa, quando os mesmos são encarados como elementos inerentes ao processo de comunicação. E, sob este ponto de vista, o computador leva grande vantagem ao ser humano;
- Capacidade de repetição - (Florès 1972, pág. 23), diz que "o número de respostas correctas durante a aprendizagem cresce em função do número de apresentações da tarefa", embora experiências mais recentes apontem para o facto de o número dessas repetições não ser o elemento preponderante da memorização, não deixam de referir a sua relativa importância no processo da aprendizagem. Ora o computador detém uma grande capacidade repetidora, quase mecânica, que superando a maior paciência, objectividade e perseverança do melhor dos mortais, pode ser utilizada no processo de ensino e aprendizagem, completando e facilitando a actividade de alunos e professores;
- Adaptabilidade - embora só por si o computador não se adapte, realmente, a diferente situações, dado não se tratar de um ser mutante, os programas que corre é que se podem adaptar ao utilizador favorecendo, assim, uma diferenciação pedagógica mais adequada a cada indivíduo. Mas desta solidariedade máquina-programa, resulta uma adaptabilidade que pode oferecer actividades de recuperação, remediação e/ou enriquecimento conforme as características do aluno/utilizador;
- Capacidade de análise - pela interactividade proporcionada, espera de resposta, e pelos conceitos cibernéticos em que assenta a sua utilização, pode proporcionar a realimentação imediata do sistema. A cada resposta entrada pelo aluno/utilizador corresponde uma análise e validação da mesma, em tempo real, o que pode facilitar, por isso, a efectivação de uma auto-avaliação;
- Capacidade audiovisual - se o tratamento da imagem analógica é difícil, porque é sequencial, (Aristarco, Guido e Teresa, 1990) a sua digitalização, ou codificação numérica, veio criar um leque de possibilidades até há pouco tempo inexistentes. Os avanços da microelectrónica reflectiram-se nas novas capacidades visuais (e áudio) alcançadas pelos novos computadores. O encarar da imagem como uma matriz apresentou a novidade de se poder trabalhá-la, por software, em qualquer momento e em qualquer das suas características físicas (luminância, crominância, contraste) ponto a ponto.
Aliada às novas capacidades gráficas, a possibilidade de tratar o som de forma digital abriu caminho a uma "multirepresentação ligada à utilização de linguagens distintas para explicar e representar o mesmo fenómeno" (Valente, M, e Neto, A., 1989, pág. 8). Assim, os modelos "construídos" em computador não sendo reais também o não são totalmente abstractos, são entes híbridos, "abscretos" (Hebrenstreit, 1988, referenciado por Valente e Neto, 1989), que colocados em presença do aluno lhe facilitam a percepção, a compreensão e a construção da imagem mental, cognitiva, conducente à aprendizagem.
O uso dos computador pelos alunos dá-lhes mais controlo, confiança e poder no que estão a fazer.
Nas escolas, o computador tem sido utilizado fundamentalmente em dois campos: na gestão escolar (onde, tal como num escritório, é usado em actividades ligadas à contabilidade, organização das turmas, processamento de salários, registo dos alunos e professores) e como instrumento de trabalho no próprio processo educativo.
Isto leva-nos a falar das aplicações do computador na educação (que envolve os dois pontos atrás referidos) e no papel do computador no ensino (que se refere apenas ao último ponto).
A utilização do computador no ensino é feita de duas formas distintas, uma activa em que o computador tem um papel preponderante e uma em que o computador é um instrumento, um meio de ensinar.
Outra aplicação que o computador está a ter no ensino é como recurso material, elemento de consulta de determinados tópicos como História, carreiras ou operação de máquinas, ajudando os alunos nas suas investigações e projectos de trabalho.
Sintetizando passo a enunciar os seguintes modos de classificar, numa visão do computador disseminador de conhecimento, o papel do computador no ensino, segundo (Lutterodt, Sarah e Austin Gilbert, 1982):
1. Computador como tutor - programas que pretendem instruir e guiar o aluno na sua aprendizagem ou processos de pensamento.
2. Computador como instrumento - o aluno usa as aplicações do computador e manipula a informação.
3. Computador como aprendiz - o aluno ensina (programa) o computador.
4. Computador como elemento de consulta - permite uma pesquisa sobre determinados temas.
O computador não é um mero substituto do professor, mas uma ferramenta de trabalho, para ser utilizado tanto quanto possível pelo próprio aluno.
Ser capaz de lidar com a informação tem cada vez maior importância em todas as esferas da sociedade.
Torna-se vital desenvolver desde muito cedo nas crianças as capacidades de saber onde procurar a informação pretendida, seleccioná-la, interpretá-la, orientar o seu processamento, avaliar os respectivos resultados. Torna-se igualmente importante saber usar o computador como um instrumento de comunicação. O computador só por si não é um factor de progresso.
A introdução do computador no ensino não deve ser feita de forma precipitada. Deve-se ter em consideração a reflexão sobre os objectivos educacionais visados, a forma de os concretizar, de avaliar os resultados e os processos de formação a utilizar para que os professores venham a assumir um papel radicalmente novo.
Uma aprendizagem activa acontece quando existe um envolvimento activo dos alunos no processamento da informação, o mesmo é dizer que quando o aluno tem a possibilidade de fazer - -manipular, sentir, desenvolver - ele próprio interioriza mais facilmente os conceitos novos nos já existentes.
O computador é uma ferramenta que pode contribuir grandemente para a concepção destes tipos de ambientes de aprendizagem, ao permitir que conceitos dantes unicamente verbalizados sejam manipulados informaticamente através da imagem e do som, tornando-se muito mais evidentes e interessantes. Ambientes que insistem os alunos a atingir os objectivos educacionais desejados, isto é, que permitam que os alunos demonstrem as suas capacidades num dado domínio, que lhes forneça o desenvolvimento necessário para competências e processos de desenvolvimento de aprendizagem.
O "bom" programa informático será, então, aquele que leva os seus utilizadores a alargar os horizontes, a aumentar a auto-estima, aumento da actividade de reflexão e resolução de problemas, etc.. De acordo com Bowman (1989) os computadores estão mesmo a revolucionar a forma de pensar dos homens sobre o mundo.
Um "bom" programa informático educativo "... deveria reforçar a aquisição de competências metacognitivas e estratégicas de aprendizagem que envolvem a explicitação e a reflexão sobre os conhecimentos dos alunos (falhas e concepções incorrectas versus aspectos positivos), assim como o reforço dos seus métodos de pensamento e actividades de aprendizagem (poderosos versus débeis)." (Erik de Corte, 1992).
Mas utilizar pura e simplesmente o computador na sala de aula, não significa que ele esteja a ser usado como meio para a aquisição de conhecimentos, capacidades e atitudes. Para que isto aconteça, é necessário que esteja inserido num ambiente de ensino activo. Mas não só, ou talvez mesmo em primeiro lugar, é necessário que os professores tenham conhecimento da eficácia dos programas, características técnicas, área curricular e nível de ensino, objectivos, dados sobre a sua eficácia relativamente a outro método alternativo - para que tenham a oportunidade de usar este potente meio de ensino - aprendizagem, tirando o máximo partido das suas potencialidades e permitindo aos alunos serem eles os principais actores, num cenário que eles próprios, dentro do possível, construam. E dentro deste contexto devem servir para ajudar os professores a sentirem-se mais profissionais, educadores com "E" maiúsculo, como é muitas vezes comentado.
Nas escolas portuguesas os programas informáticos educativos, na grande maioria dos casos ou não são usados, ou sendo-os, são principalmente com uma finalidade de suporte e não como meio activo de aquisição de conhecimentos. Esta situação existe devido a várias razões: à diminuta falta de conhecimentos informáticos por parte dos professores; desconhecimento da existência de programas informáticos educativos; dificuldade de adaptação dos programas existentes aos currículos; falta de informação sobre a eficácia dos programas e de como os utilizar em situações de ensino - aprendizagem construtivas.
2.2. O Computador No Currículo Escolar
O computador serve para preparar projectos que os alunos tenham em mente. Por exemplo: levar a cena a peça de Gil Vicente. Neste campo o computador será usado para uma busca intensiva no que respeita ao modo de falar, ambientes e trajes.
Com a ajuda do computador o desenho do cenário, iluminação e outros aspectos da produção serão produzidos em vídeo.
Os modos de aprender e reagir ao mundo externo serão igualmente afectados e moldados à medida que a tecnologia altera o ambiente.
O sistema educativo deverá ser responsável pela preparação das pessoas para o mundo em mudança, através da integração da utilização informática no currículo escolar e fornecer aos estudantes as capacidades e os conhecimentos necessários para a sua adaptação às transformações que vão tendo lugar à sua volta.
A tecnologia informática na sala de aula contribui para múltiplas aplicações:
Incrementar a valorização pessoal dos alunos ao permitir-lhes aprender, explorar, criar, solucionar problemas, arriscar hipóteses, cometer erros e corrigi-los num ambiente pacífico e independente de ameaças explícitas ou implícitas.
O computador servirá para estimular a imaginação dos alunos e permitir-lhes opções, bem como, projectos mais criativos.
Contribuirá para ajudar os alunos a assumirem um certo grau de responsabilidade pela sua educação, contribuindo para que atinjam um estatuto de estudantes autónomos.
A utilização da informática em todas as áreas curriculares exercerá um forte impacto nas intenções e objectivos curriculares. Tanto os alunos como os educadores se encontrarão num processo de aprendizagem simultânea, podendo desta forma resultar num tipo de relacionamento cooperativo diferente. Reforçando o conceito: aprendizagem é um processo/projecto de vida não limitado à escolaridade.
A informática pode vir a ser importante na motivação, participação e interacção entre estudantes.
Os estudantes quer sejam do ensino pré-primário, passando pela Educação Especial, ensino secundário e até adultos possuem diversidades, interesses, estilos de aprendizagem e antecedentes sociais e económicos individuais.
O desenvolvimento físico, intelectual e emocional desenvolvem-se nos estudantes em ritmos diferentes. A variedade de aprendizagem individual possui vários estilos: visuais, auditivos, verbais e cinestésicos.
O hardware e o software podem ajudar todos os alunos, em particular alunos que aprendam uma segunda língua, deficientes e adultos, num desenvolvimento autónomo que tenha em conta necessidades e capacidades individuais.
Os computadores podem ajudar os alunos a comunicar de diversas formas. Podem ajudar os alunos com dificuldades orais ou físicas a comunicar através da utilização de dispositivos amplificadores.
Produções multimédia permitem aos alunos a utilização de uma variedade de métodos de apresentação (texto, som, animação, gráficos, etc.) para se exprimirem.
Alunos de comunidades geograficamente isoladas podem aceder instantaneamente a fontes de outros ambientes de aprendizagem ou comunicar com outros alunos em localidades diferentes.
A tecnologia tem evoluído ao longo dos tempos surgindo novas profissões e as tradicionais vão sofrendo um rápido processo de evolução. Os métodos e as técnicas de trabalho tem um prazo de duração cada vez menor, sendo renovadas ou substituídas por novos métodos e novas técnicas de trabalho.
O saber baseado na memorização extensiva e na simples apreensão de técnicas repetitivas vai-se desvalorizando. Por outro lado as capacidades de trabalho em grupo, de fazer julgamentos críticos, de seleccionar informação necessária à resolução dos problemas, saber interpretar e trabalhar as capacidades de assumir riscos tomar decisões tornam-se mais importantes. Desta forma o sucesso escolar dependerá da forma como a escola promover o desenvolvimento das capacidades cognitivas mais complexas.
2.3. Benefício do Uso dos Computadores pelas Crianças
A criança aprenderá a operar com destreza com o teclado. Descobrirá que os enganos e outras espécies de erros não são tolerados. Desvendará o curso lógico de complicados pensamentos. Será forçada a decompor em pequenos passos os problemas vastos e gerais. Sentir-se-á recompensada pelos êxitos, parciais, ou finais, do seu trabalho com o computador. Aprenderá a melhorar e aperfeiçoar os programas por ela própria escritos. Desenvolverá as suas capacidades e juízos estéticos.
Outra vantagem do computador para as crianças e jovens é o tirarem do uso dos seus problemas a resolução de problemas concretos.
Com o computador doméstico é possível vencer certas deficiências de educação, através da chamada instrução auxiliada por computador, que afinal nada mais é do que um processo de estudo como os outros.
2.4. Soluções Técnicas e Software para Alunos com Nee
Existem os mais variados tipos de soluções desde as extraordinariamente simples às mais complexas para resolver os problemas de cada sujeito de per si.
Desde soluções tão simples quanto uma placa de plástico perfurada, colocada por cima do teclado, de modo a impedir a sujeitos, com disfuncionalidades motoras que carregassem em mais de uma tecla ao mesmo tempo - até soluções integradas como a impressora Index Basic, teclado alternativo Braillex e sistema Dolphin de audição e Syntha-Voice para invisuais, que assim poderiam ler em Braille imprimir em Braille e ouvir aquilo que se encontra escrito no ecrã, apareceu de tudo um pouco.
Existem autores que afirmam que uma das actividades mais comuns, se não mesmo a actividade que ocupa quase a totalidade do trabalho realizado pela maioria dos deficientes tem a ver com o tratamento de texto.
Por outro lado, sabe-se que a maioria das pessoas que não possuem controlo específico das mãos devido a problemas relacionados com paralisia cerebral ou outros, utilizam normalmente o computador para conseguir superar a problemática da produção de texto. Sabe-se ainda, que as pessoas que têm dificuldade da articulação de sons ou de palavras, utilizam muitas vezes o computador como uma prótese facilitadora da comunicação.
O problema central da Tecnologia para os cegos, está situado na identificação do que se encontra no monitor de um computador para que este possa trabalhar a informação. Fazer a introdução de dados não constitui um problema, pois basta encontrar uma tecnologia - já mais que vulgarizada - que permita fazer a identificação de caracteres de modo a que eles sejam perceptíveis ao tacto. Sendo assim, podemos dizer que a acessibilidade para a utilização dos computadores para os invisuais tem que se basear em tipo de tarefas não visuais, ou alternativas para tarefas não visuais e existem três procedimentos padrão, para fazer isso.
- Possibilidade do monitor ser analisado através de processos sonoros, utilizando software de leitura de ecrã (screen reader) com sintetizadores de voz sofisticados.
- Uma segunda solução é fazer com que o teclado alternativo, nomeadamente em Braille, possa não apenas servir como dispositivo de entrada, mas também como dispositivo de saída, aparecendo na linha Braille que se possui no teclado a correspondente linha que está a ser lida no monitor. Este procedimento é, obviamente interactivo.
- Utilização de uma metodologia combinada das duas soluções. Deve dizer-se que normalmente a esta terceira alternativa que é utilizada actualmente e que aparece ainda compensada com um outro tipo de periférico, que são as impressoras Braille.
Tecnologias de apoio para alunos com baixa visão - A problemática deste tipo de deficientes, relativamente ao uso dos computadores, define-se de uma maneira relativamente fácil. As 25 linhas por 80 colunas que normalmente é possível utilizar-se em termos de caracteres no monitor, são demasiado pequenas para poderem ser vistas por pessoas com deficiências desse tipo. A resposta óbvia a este problema, é necessariamente transformar estes caracteres em caracteres mais largos. A solução tradicional consiste em encontrar periféricos adicionais do género lupa, que possam eventualmente fazer aumentar a capacidade de visão do sujeito relativamente àquilo que se passa no monitor.
Começa-se hoje a encontrar outro tipo de soluções porque a capacidade de ampliar o tamanho do texto pelos próprios processadores ou por outro tipo de software é já perfeitamente vulgar.
Existe uma ou duas considerações teóricas que parecem ser fundamentais para a percepção deste problema. O aumento do texto em si, pode não ser significativo se não permitir a compreensão completa do texto. Há que distinguir de imediato dois tipos de ampliação. A ampliação ligeira, em que um pequeno aumento de tamanho do texto ou de qualquer outro tipo de característica gráfica, pode permitir o seu trabalho imediato.
Consegue-se com dispositivos específicos, visualizar não o ecrã inteiro, mas um quarto do ecrã, por exemplo ampliado, com barras de rolamento lateral e vertical, que permitam ao deficiente trabalhar com facilidade em todo o espaço disponível do monitor, permitindo-lhe do mesmo modo aceder a toda a amplitude gráfica disponível.
Este tipo de soluções são normalmente do tipo "windows", fáceis de trabalhar e correspondem a adaptações que permitem ao sujeito uma maior facilidade de manuseamento da imagem.
Naturalmente que para um indivíduo de acentuada baixa visão em que as ampliações terão de ser necessariamente bastante maiores, este tipo de solução já não é de tão fácil aplicação.
Existem hoje produtos para qualquer ambiente de trabalho que executam razoavelmente bem este tipo de operações, mas parece tornar-se necessário continuar a investir no desenvolvimento da possibilidade de se fazer o ajustamento do aumento do ecrã em função do sujeito e não introduzir soluções padrão que eventualmente poderão ser excessivas para um e diminutas para outros.
Tecnologias de apoio para pessoas com deficiências motoras - Este tipo de deficiências é causado pelas razões mais diversas que, normalmente, provoca no deficiente o desaparecimento de capacidades físicas de utilização de membros ou por amputação ou por efeitos neurológicos. De um modo geral, podemos caracterizar este tipo de deficiência, por uma amplitude muito grande relativamente à incapacidade de utilização ou da mobilidade dos membros.
Foi para este tipo de deficientes que começaram a aparecer as soluções concebidas com a utilização de computadores. Diga-se mesmo, que toda a filosofia da engenharia de reabilitação se apoiou inicialmente nos deficientes motores, existindo hoje em vários pontos do globo, inclusive em Portugal, centros de reabilitação que têm desenvolvido soluções extraordinariamente eficazes.
De um modo geral, podemos dizer que para os deficientes motores existem três pontos críticos que necessitam ser analisados, no que concerne à utilização de meios informáticos: a posição do teclado, o acesso ao teclado e a velocidade de digitação no teclado.
Dito isto, compreende-se que toda a problemática das soluções para o deficiente motor, tem a ver não necessariamente com a saída da informação, pois a leitura e a audição permitem claramente servir-se dela, mas fundamentalmente com a entrada da informação. Digamos que o problema está "no teclado". Vejamos então esses três pontos críticos em pormenor.
Em primeiro lugar a posição do teclado. A posição do teclado está ligada ao facto de deficientes deste tipo possuírem pouca mobilidade corporal, pelo que o movimento de ajuste normal de qualquer sujeito da visão ao monitor e ao teclado, em alternância, provoca nesse caso efeitos complexos quer de cansaço, quer mesmo de rigidez muscular. Ao terem que modificar a posição do corpo para digitarem, dadas as dificuldades de coordenação motora implica, normalmente, uma grande frequência de erros de digitação. Por outro lado, esses problemas de coordenação, levam a um grande cansaço pelo que se torna imprescindível para este tipo de sujeitos identificar a posição mais correcta que o teclado deverá ter.
O problema de falta de controlo motor que leva à digitação de caracteres vizinhos, que não os desejados, resolve-se de uma maneira simples. Coloca-se por sobreposição ao teclado uma placa plástica que possui tantos orifícios quantos os correspondentes a cada uma das teclas e com uma disposição rigorosamente idêntica. Isto permite ao deficiente como que "guiar" os dedos através desses orifícios para a tecla que deseja.
A segunda questão, que é o acesso ao teclado é de importância vital para deficientes motores com problemas específicos, tais como:
. Como é que um amputado de um braço pode, em simultâneo, pressionar duas teclas?
. Como é que o tetraplégico pode escrever no teclado?
. Como é que um deficiente mental motor com total descoordenação pode escrever num teclado de um computador?
Estas são questões essenciais e é, naturalmente, a partir delas que se criam as situações de adaptação ou as situações de tentativa de utilização de teclados alternativos, inclusivamente, para as deficiências profundas.
As soluções técnicas hoje são simples e tem a ver com aquilo que se chama a tecnologia dos "Simple Switches", que vai permitir que:
Com apontadores de cabeça,
Com teclados de papel,
Com tartarugas de solo,
etc.,
um deficiente possa, desde que tenha a coordenação motora da cabeça ou que tenha a coordenação motora dos pés, servir-se deles para poder fazer a digitação, ou, com os ambientes gráficos mais simples que hoje se utilizam, fazer a produção do que quiser, simplesmente por toque de um dispositivo periférico de entrada em tudo semelhante ao rato, que não necessita de ser movimentado com a mão. Pode fazê-lo ainda, através de um teclado alternativo, que seja sensível ao toque seja do que for.
A utilização de teclas em simultâneo e a utilização de teclas de função (Ctrl, Alt, Ins, Shift, etc.) acabaram por constituir uma barreira para deficientes que eventualmente só possam utilizar uma mão ou para deficientes que tenham problemas de lateralidade.
Normalmente, este tipo de problemas resolve-se através de soluções de software, que façam o controlo do próprio teclado. Consegue-se isso através da contagem ou de identificação de tempo de pressão sobre uma determinada tecla. Se ao carregar na tecla A mantivermos a pressão um determinado tempo, o programa identifica esse tempo como utilização do Shift e escreve um A maiúsculo. Se se carregar com um toque mais curto, ele escreve o A minúsculo o que evita a conjugação da tecla Shift com qualquer outra tecla. Este tipo de controlo temporal é aplicado também à tecla Ctrl e à tecla Alt.
Um outro tipo de problema comum tem a ver com a repetição de letras por pressão prolongada, na medida em que o deficiente não tem um controlo motor necessário para fazer apenas um toque de uma tecla. Acontece, que ao pressionar muito tempo vai fazer aparecer cinco ou mais letras seguidas. Isto consegue-se resolver através do controlo de tempo necessário para enviar para o "buffer" do teclado a letra correspondente à que se pretende imprimir e só depois é que ela será reenviada para a matriz geradora de caracteres no monitor.
A solução mais significativa e que mais se tem utilizado para este controlo é da cobertura do monitor através de coberturas de guias dos dedos para cada um dos teclados e determinar que, qualquer que seja a duração do toque, apenas um carácter será gerado.
Há deficientes que não conseguem sequer escrever dez a doze palavras por minuto, o que de um modo geral vai fazer com que se torne necessário encontrar soluções que lhe permitam aumentar a sua velocidade de digitação. Uma solução software com utilização de programas que podem de algum modo fazer a previsão do tipo de palavra que poderá ser escrita a seguir, em função da frase que está a ser escrita é uma possibilidade utilizada. Normalmente, aparece-lhe não uma solução mas várias soluções em alternativa, das quais o utilizador poderá apenas com um simples toque, identificar uma palavra completa.
Tecnologias de apoio para pessoas com deficiências auditivas - Importa desde já dizer que os diferentes graus de deficiência auditiva são complexos e só há relativamente pouco tempo é que se tem vindo a encontrar as soluções médicas capazes de identificar as incapacidades auditivas em toda a sua plenitude. Muitos dos problemas que estão relacionados com situações de deficiências de aprendizagem tem a ver exactamente com as incapacidades auditivas que, não sendo detectadas ao nível da primeira infância, vão ter repercussões complexas mais tarde. Para soluções de deficiência auditiva identificada, que tenha efectivo reflexo nos processos de aprendizagem, a informática permitiu fazer o acompanhamento de identificação visual do que se passa com os processos sonoros, criaram situações de relevância espantosa sobre o ponto de vista de solução de problemas.
Existem soluções que permitem ao sujeito fazer o controlo da própria voz e do modo como ele se exprime por letras, palavras ou frases, "obrigando-o" a fazer as correcções a um padrão de voz qualificado. Quando se podem experimentar soluções destas na primeira infância, isso vai muitas vezes permitir que o deficiente auditivo, seja capaz de conseguir fazer, quer um controlo de audição, quer um controlo da sua própria dicção.
Para os surdos profundos, cuja única alternativa é efectivamente a linguagem do "silêncio", pode o computador através de ferramentas como o Lsign, permitir ler livros e escrever cartas ou falar com um terceiro sujeito.
Com efeito, não é complexo ter um pequeno programa que associe cada código ASCII ao elemento gráfico representativo do posicionamento de uma mão na linguagem dos surdos mudos.
Acabada esta visão muito global sobre os problemas fundamentais dos principais tipos de deficiência, importa referir que existem inúmeras pequenas deficiências, muitas das vezes não detectadas e que vão apresentar-se como responsáveis por problemas de deficiências de aprendizagem significativas, nomeadamente ao nível do ensino secundário. Tem a ver com coisas como:
pequenos problemas de audição;
pequenos problemas cinéticos ou ao nível do tacto;
pequenas inabilidades ao nível do controlo motor fino;
pequenas deficiências ao nível de identificação de ritmo;
pequenas deficiências em termos de identificação de profundidade ao nível da visão;
pequenas deficiências ao nível do controlo motor para a capacidade de escrita;
pequenas deficiências em termos de controlo visual para identificação de cores;
etc.
O ensino assistido por computador nas crianças deficientes é complexo e implica dois problemas fundamentais:
1º A necessidade de um hardware adaptado, ou seja, existência de equipamentos que sejam manejados por crianças com determinadas deficiências físicas, intelectuais ou sensoriais.
2º A escassez de um software que sirva as actividades e as técnicas da Educação Especial, ou seja, a escassez de programas que respondam às exigências da aprendizagem dos deficientes.
Quanto ao primeiro problema recorde-se que já se desenvolveram ecrãs sensíveis ao tacto, e teclados "conceptuais" que ajudam quem tem dificuldades físicas para usar o teclado; os cegos já podem seguir um texto que aparece no ecrã através da sua transcodificação em voz sintética ou em Braille através dum terminal, podendo-se também, comandar o computador com a própria voz, sem tocar numa tecla.
O ensino assistido por computadores na Educação Especial é mais complexo, traz mais dificuldades no ensino do que na educação regular, visto ter de se contar com as limitações, défices e dificuldades dos próprios sujeitos - utilizadores. Dá autonomia ao indivíduo e independência em relação aos educadores, professores e familiares, facilitando a desgastante acção pedagógica da equipa interdisciplinar que deverá trabalhar com tal tipo de deficientes, facilitando a integração do aluno numa normalização escolar.
As aplicações no ensino assistido por computador em Educação Especial são melhor sucedidas no caso das disfunções orgânicas e sensoriais concretas. Para o caso dos cegos é, por exemplo, a passagem de um texto impresso para um texto auditivo ou em Braille. No caso dos surdos é a ajuda do instrumento "microvoz", para fazer a visualização dos sons que são emitidos.
O ensino por computador na Educação Especial:
- armazena a informação para pessoas cegas;
- é meio de facilitação da aprendizagem da língua, da leitura e do cálculo;
- facilita a aquisição da autonomia e do controlo do meio;
- ajuda a comunicação através de gráficos, digitalizadores, comutadores, teclados ampliados, teclados tácteis, sintetizadores de voz, detectores do movimento ocular, etc;
- é um meio poderoso de auto-treinamento, através da realização de jogos, estratégias, aventuras e fantasias; habilidades, simulações, desenhos e expressão não verbal, etc.;
- é poderosa ajuda para a instrução em geral, para a educação e terapia da linguagem (logoterapia);
- a nível de deficientes físicos são poderosos meios de reabilitação; valorizadores da comunicação, controladores das próteses, das cadeiras de rodas, da mobilidade, dos movimentos e da orientação espacial;
- a nível de deficientes visuais: impressoras de Braille, reconhecedores e sintetizadores de vozes, leitores ópticos e serviços de correio electrónico; serviços de informação: registos, arquivos, de notícias de mercados, restaurantes, cinemas, compras; banco de dados a domicílio, uso dos textos das bibliotecas escolares, actividades lúdicas, etc.
As condições que devem reunir os softwares para a Educação Especial são por isso: programas pessoalizados, com variedade na informação, frequência na solicitação das respostas, limitação máxima das respostas erradas, manutenção dos interesses, reforços contínuos; incremento da acuidade; discriminação auditiva, leitura por impulsos electrónicos mediante opção ou conversão de imagem óptica em sensação táctil para cegos; programas de reforços da leitura labial mediante reforços de ecrãs de vídeo, estimulação dos centros auditivos e da acuidade visual para surdos; programas de reforço da leitura por leitura global em linguagem, ditados imagem-grafismo, reforço dos conceitos básicos e de actividades intelectuais, exercitação de operações aritméticas, de séries de números e de operações simples em matemática: operações de ordenação, classificação e de selecção para deficientes mentais. Isto com o uso de uma linguagem que parece ser a do sistema Logo a mais aconselhável para os programas de deficientes mentais e a do sistema Basic para os deficientes sensoriais e motores: cegueira, surdez, paralisia cerebral.
Não se deve esquecer que, se por um lado, as mensagens afectivas, a natureza das pulsões, as necessidades de estabilidade emocional e de segurança psicológica, jamais poderão ser substituídas ou transmitidas por impulsos electrónicos através do computador, urge, por outro lado, a implementação de linhas de investigação interdisciplinares ligadas ao problema do ensino assistido por computador, visto poder-se afirmar que nenhum desenvolvimento da tecnologia educativa é pura e simplesmente pedagógica, pois está interdependente do avanço e desenvolvimento de outras Ciências: Ciências do Comportamento, Ciências da Informação e da Comunicação, Ciências da Organização e da Gestão, Ciências da Reabilitação e da Bio-Engenharia da Ergonomia e da Ergoterapia, da Electrónica e da dos Bio-mecanismos, da Psicologia e da Pedagogia, da Sociologia e das Ciências da Educação.
Capítulo 3
Formação de professores
Há já algum tempo que os professores se aperceberam que não podem continuar a ser meros transmissores de conhecimentos. Numa época em que há um constante desenvolvimento tecnológico e dos conhecimentos a todos os níveis, em que se repensa o papel da Escola e dos professores, importa que estes se consciencializem do carácter temporário dos conhecimentos possuídos e da necessidade de uma constante actualização. O computador vem, então facilitar-lhes os meios para tal.
É necessário e urgente e que os professores, especialmente os da Educação Especial, trabalhem nos mais diversos graus de ensino na utilização educativa dos computadores. Em algumas das nossas escolas os professores iniciaram a utilização diversificada dos computadores, da criação de clubes de informática, à integração do computador na sala de aula.
É de realçar que a maior parte dos professores não iniciados na utilização de computadores no ensino, pensa que é fundamental saber programar para poder utilizar adequadamente um computador. Não é possível um professor ainda que com muita experiência desenvolver a maior parte dos programas que necessita uma vez que estes são muito complexos e diversificados e requerem muito trabalho.
Só a prática permite o aperfeiçoamento das técnicas e dos processos envolvidos. Não basta dispor de computadores e bons programas para utilizar com sucesso os computadores no ensino.
Há também necessidade de criar espaços específicos para as diferentes disciplinas o que possibilitará utilizar sistematicamente o computador sem ter de ser transportado para a sala.
A formação de professores é igualmente aceite como a chave do sucesso de qualquer inovação educacional. A qualidade da formação dos professores é factor que mais determina a qualidade da sua prática educativa. A utilização contínua permite a formação dos conceitos e ideias pedagógicas sobre a sua utilização. Não há prática educativa sem o "saber fazer".
A utilização do computador será tanto mais eficaz quanto mais frequentemente utilizar o computador como ferramenta do trabalho pessoal (processamento de texto, base de dados, etc.).
Há educadores que defendem que os currículos devem ser alterados de modo a que nessas diferentes disciplinas se faça o uso do computador.
A tecnologia pode ter um papel importante na transformação dos métodos e dos currículos escolares.
O computador pode constituir um agente de mudança na escola tradicional.
Os alunos são estimulados a participar activamente na construção do seu conhecimento e a ter um papel decisivo na evolução das actividades. "O ênfase passa a estar na aprendizagem e não no ensino".
A História da Educação mostra-nos que a escola demora um considerável período de tempo a adaptar-se às novas condições provocadas pelos saltos tecnológicos.
Uma das componentes fundamentais da cultura actual é a cultura - científico-tecnológica.
A escola deverá tornar-se sensível ao ritmo da evolução social e tecnológica.
É necessário uma formação de professores encarada como formação permanente e contemplar vários níveis de envolvimento e vários tipos de funções relativamente à utilização educacional da informática (professores-utilizadores, animadores e orientadores-formadores).
Deve-se ter presente que em matéria de formação o problema não se reduz à simples falta de conhecimentos de informática dos professores.
O computador pode ser um precioso instrumento educativo nas mãos de professores imaginativos e entusiastas. É uma ferramenta de trabalho essencial para o desenvolvimento dos mais variados projectos e actividades por parte dos alunos.
Todas as diferentes aplicações que o computador pode ter na Educação e mais especialmente no ensino levam-nos a falar no papel do professor. Parece-me que começa a desaparecer a tentativa e a ameaça de substituir os professores por programas de autoformação. É evidente que o professor continua a estar presente na Escola, mas talvez exercendo um novo papel. Serão privilegiadas as capacidades de organizador e coordenador das diversas actividades. As aulas podem-se tornar em verdadeiros centros de criação e investigação.
O uso dos computadores pode ajudar os professores a passarem de uma concepção magistrocêntrica da Educação em que o professor é o centro da actividade escolar e os alunos o centro da passividade, para uma concepção puerocêntrica que desloca do professor para o aluno o fulcro da actividade escolar, reduzindo a passividade dos alunos. Teremos então uma escola activa, com a individualização da Educação, com uma constante actividade durante o acto de aprendizagem, com a descoberta pessoal do saber a partir da realidade.
Os professores podem com os vários tipos de software de que vão dispondo colocar os alunos em situações de aprendizagem com todos os elementos da realidade e que lhes vão permitir através da análise descobrir e estabelecer relações. A educação pode passar a ser vista na perspectiva de uma acção ou influência de natureza afectiva, exercida intencionalmente por uma personalidade adulta, sobre personalidades em fases de maior estruturação e desenvolvimento. O uso do software pode libertar o professor de determinadas tarefas, algumas delas bastante rotineiras. O professor terá então oportunidade de consagrar mais tempo à observação psicopedagógica do aluno, dando lugar à intervenção directa junto de cada aluno no momento oportuno. Teremos oportunidade de criar autênticas relações humanas entre professores e alunos.
E aqui é quase obrigatória uma breve referência não só à necessidade de repensar os curricula das diversas disciplinas, mas principalmente à formação dos professores. Atendamos a que o mau ou desapropriado uso de um computador, por um professor inexperiente, pode ser algo de inibidor e desmotivador para um aluno sedento e atento às potencialidades desta máquina. A formação dos professores no que respeita às novas tecnologias da informação deve ter como preocupação não só a formação inicial bem como a formação contínua (atendendo ao constante avanço tecnológico a que se assiste nesta área), e à integração de alunos com NEE, tornando mais premente a formação de professores do Ensino Especial. Em ambos os casos deve ter em consideração a formação adequada na área técnica e na área pedagógica. A formação contínua pode ser ministrada quer a tempo inteiro (com dispensa do serviço lectivo), quer aproveitando os tempos não lectivos dos professores. Reportando-nos concretamente à realidade portuguesa parece-me importante que neste momento se realizem acções de sensibilização, onde se dêem a conhecer as várias perspectivas de utilização das novas tecnologias de informação.
Todos com maior ou menor intensidade temos consciência de que estamos a viver um período de profundas mudanças não só na área produtiva, como na actividade profissional e ainda na própria cultura. Estas mudanças vão originar uma nova sociedade e uma nova sociedade vai precisar de um novo tipo de Escola para cumprir novos objectivos educacionais. O computador tem tido um papel importante no sentido desta necessidade e pode prestar uma ajuda significativa à escola para a transformação que urge.
Por outro lado há um certo empenho em fazer do computador como que um reflexo do homem. Este esforço de "humanização do computador" deve, em minha opinião, ser desenvolvido. Para atingir este nível, os informáticos foram levados cada vez mais a estudar o funcionamento dos mecanismos da linguagem, da aprendizagem e da cognição, para conseguirem implementá-los nos computadores. Entramos no que vem sendo designado por "inteligência artificial".
Há todavia que considerar determinados limites (Harasim, L. 1989). Por exemplo uma das dificuldades na construção de tutorias inteligentes reside no campo da psicologia da aprendizagem. Ainda não se conhece suficientemente bem a maneira de aprender do aluno de modo a se adaptarem os programas tendo em vista uma facilitação efectiva do processo de aprendizagem.
Parece-me que uma máquina com as características que o computador apresenta deve ter um papel importante no ensino e que se deve explorar ao máximo essas potencialidades. Tais potencialidades não se referem somente ao desenvolvimento de bom software educativo, mas também ao uso rentabilizado do computador. Este uso implica que estejamos inteirados das teorias de aprendizagem ou que percebamos minimamente os processos mentais subjacentes à recolha, ao tratamento, ao registo e à evocação da informação, bem como à dádiva de respostas.
Parte II - Parte Prática
Introdução
Um dos objectivos principais do meu trabalho "O Computador na Prática Pedagógica" é o de mostrar as várias resistências dos professores/educadores, na Educação e uso pedagógico dos computadores, na organização das actividades educativas, na planificação de aulas e de currículos.
Na Parte I, apresentam-se algumas questões básicas no que diz respeito à utilização educativa dos computadores. Defendem-se algumas posições, provavelmente polémicas nomeadamente a ideia de que os computadores têm por um lado, um futuro promissor na Educação e, por outro, perspectivas muito limitadas na sala de aula.
Na Parte II, analisa-se o que se passa na Educação Especial no que concerne à utilização educativa de computadores, no seu contributo, esclarecimento do papel das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nos alunos portadores de deficiência.
A integração das TIC nas escolas pode ser realizada através duma actividade complexa, com evidente vantagem em ser criteriosamente preparada e acompanhada levando à ideia de que é vantajoso estruturar o Trabalho, a desenvolver Projectos de Trabalho, a níveis de projectos pedagógicos da escola (nomeadamente no plano global) e que estas actividades de integração não se desenvolvam esporadicamente, mas sim fazendo parte de algo planificado adequadamente, em particular, para os alunos com NEE.
É importante que fique mencionado que a discussão da formação de professores deve ter importância fundamental, têm de ser estes a participar activamente no processo de introdução das TIC na Educação Especial, devendo para isso, os professores possuírem preparação, formação inicial e contínua.
Os resultados obtidos neste trabalho aconselham a não interrompermos o trabalho de exploração/investigação que tem continuado até ao presente.
Ao utilizarmos as TIC em conjunto com os alunos de Educação Especial transferimos para estes o poder de que a utilização dessas ferramentas, autonomiza-os, liberta-os das tarefas rotineiras, torna-os mais imaginativos, mais críticos.
O que está em causa é a adequação de todo o nosso sistema educativo para reconhecer a existência destas novas ferramentas, é a sua capacidade em integrá-las num sistema de formação coerente, de forma a fornecer a todos as competências do seu uso eficaz.
1. População E Amostra
Quando alguém se propõe realizar um determinado estudo pretende, naturalmente, analisar para tentar sugerir soluções empenhando-se, para tanto, na busca de uma solução que sirva aos sujeitos por ele afectados.
Neste caso em concreto o reduzido uso dos computadores pelos professores em geral, e em particular, pelos professores do Ensino Especial.
Ao conjunto de sujeitos afectados pelo problema chama-se população, no entanto, a população por mim investigada não pode ser estudada na sua totalidade pelas mais variadas razões. Nestas situações, o razoável é limitar o estudo a uma parte do todo, uma amostra. Normalmente, o estudo de uma amostra interessa pelas informações e conhecimentos que o mesmo permite adquirir acerca da população. Todavia, coloca-se então ao investigador a questão de saber se a parte escolhida, a amostra, é representativa da população, ou seja se a amostra mantém as mesmas características da população de onde foi extraída.
A população a que respeita o meu estudo é dirigida a professores que trabalham no Ensino Especial.
Tendo consciência, desde o início, de que o valor que determinava como sendo a dimensão da população alvo, seria sempre um valor aproximado, tomei algumas precauções no sentido de que os professores/educadores de infância, efectivamente envolvidos na Educação Especial, tivessem oportunidade de responder ao questionário.
2. Instrumentos De Recolha De Dados
A recolha de dados fez-se através de um questionário, (Anexo I) que elaborei com base na minha experiência pessoal, com base nas opiniões e contributos de diversos elementos ligados à educação.
A opção pelo questionário como instrumento de recolha de dados deve-se ao facto destes serem instrumentos que, de uma forma relativamente simples e pouco dispendiosa, permitem recolher uma grande quantidade de dados acerca "do que acontece no momento" (Tuckman, 1978; Cohen e Manion, 1989), e além disso, serem instrumentos particularmente adequados em situações de investigação em que os sujeitos da população, ou de uma amostra dessa população, se apresentem geograficamente muito dispersos ou pouco acessíveis ao investigador.
No caso particular do meu estudo, atendendo às características da população em causa, bastante dispersa geograficamente (refira-se que é constituída por professores de escolas da região Norte), e à natureza dos objectivos em estudo, considerei o levantamento por questionário como método mais adequado para a recolha de dados.
O recurso à utilização de questionários não apresenta apenas vantagens, existindo alguns inconvenientes. De entre os inconvenientes apontados como estando associados à utilização dos questionários indicam-se, com frequência os seguintes:
1. Dificilmente abrange a totalidade dos aspectos do problema em estudo;
2. Os inquiridos podem sempre rejeitar os inquéritos ou responder parcial e/ou superficialmente às questões colocadas.
Note-se contudo que as limitações associadas à utilização dos questionários podem ser minimizadas tomando em consideração algumas precauções quer ao nível da elaboração do questionário quer durante a sua administração.
Não obstante todas as medidas cautelares, apontadas anteriormente, a taxa de recuperação ficou aquém das minhas expectativas.
3. O questionário
3.1 Descrição Do Questionário
No que respeita ao tipo de questões formuladas, optei por recorrer a questões "fechadas" uma vez que pretendia informações concretas como, por exemplo, dados profissionais, e sobretudo se tinham adquirido formação especializada.
Os dados recolhidos a partir dos questionários foram sujeitos a uma análise, os quais consistiam na identificação da situação profissional (Educador de Infância, Professor do 1º Ciclo, Professor do 2º e 3º Ciclos, Professor do Ensino Secundário); na prática pedagógica como professor de apoio, na aquisição de formação na área de especialização e na utilização do computador no apoio aos alunos com NEE.
3.2. Algumas Considerações Sobre Os Resultados
Os resultados do inquérito foram avaliados qualitativamente e quantitativamente, pelo número de respostas obtidas a cada um dos itens referidos.
Ao inquérito responderam 86,6% professores/educadores dos professores, intervenientes, havendo 13,4% professores que não responderam sem motivo aparente.
Para a caracterização da amostra em estudo foi elaborado um inquérito (ver Anexo I).
Foram obtidos dados sobre a situação profissional, grau de escolaridade em que se desenvolve a actuação e ainda sobre o número de alunos apoiados, o tipo de deficiências que estes possuem e o grau de escolaridade a que pertencem, bem como, a formação na área informática e informação especializada.
Da análise à primeira pergunta do inquérito verifica-se que
o grupo de respondentes da minha amostra, constituída por 86,6% elementos, foi maioritariamente composta por docentes do 1º Ciclo do Ensino Básico (38,4%), repartindo-se os restantes por educadores de infância (20,5%), professores do 2º Ciclo (17,9%), e professores do 3º Ciclo (23%), havendo (10,2%) professores/ educadores situados simultaneamente no 3º Ciclo e Ensino Secundário.
Quanto a esta questão verifica-se a elevada percentagem de professores do 1º Ciclo de Ensino Básico na Educação Especial, bem como, a diminuta participação dos professores do Ensino Secundário na Educação Especial e ainda o facto destes professores apoiarem alunos do 3º ciclo.
As razões desta situação são de índole diversa que não compete a sua análise neste trabalho.
Em relação à segunda questão (prática pedagógica como professor de apoio), constata-se que 25,6% dos inquiridos não responderam à questão, os alunos apoiados são na totalidade (253), e estes estão distribuídos pelos seguintes graus de escolaridade:
Pré-escolar 13%
1º Ciclo 62,4%
2º Ciclo 19,3%
3º Ciclo 0,7%
Secundário 4,3%
Verificou-se que os alunos apoiados possuíam deficiências várias: deficiência motora, deficiência mental, deficiência auditiva, deficiência visual e dificuldades de aprendizagem. Não foi possível apurar o número de alunos em cada deficiência dado os professores apoiarem em simultâneo várias deficiências e de diferentes graus de escolaridade.
Relativamente à questão nº 3 (formação na área informática) 33,3% professores/educadores declararam não possuir formação e 61,5% referiram ter adquirido formação, 51,2% dos professores não responderam à questão.
É de realçar a percentagem de professores que não obtiveram qualquer formação na área informática, bem como, o elevado número de professores que não responderam à questão provavelmente por constrangimentos pessoais e profissionais.
Quanto à opinião sobre a formação recebida, ela pode ser classificada em três categorias. Verifiquei que para os docentes ela foi muita (5,1%), pouca (23%), alguma (33,3%), e não responderam (38,4%).
Saliente-se a baixa percentagem de docentes que declararam ter recebido muita formação.
Analisando a questão na globalidade verifica-se que a maioria dos docentes receberam formação rudimentar.
Por outro lado, interrogados sobre informação especializada recebida nesta área, 69,2% não responderam à questão, 12,8% referiram ter informação e 17,9% não adquiriram informação.
A maioria dos docentes não responderam à questão ou por falta de coragem ou ainda por constrangimentos pessoais e profissionais, ou por nunca lhes ter sido proporcionada formação especializada. Pode-se ainda verificar a percentagem reduzida de professores que receberam formação especializada.
Quanto à questão nº 4 (tem computador na escola onde trabalha?), 58,9% professores possuem computador no estabelecimento de ensino, 28,2% não possuem nas suas escolas e 12,8% não responderam.
Dos 58,9% professores que utilizam o computador na sua prática pedagógica verifica-se que os interrogados dispõe do computador localizados nos mais variados espaços escolares, desde a sala dos professores, centro de recursos, biblioteca, gabinete da assistência social e sala de informática. Note-se aqui a falta dum espaço definido para o apoio dos docentes aos seus alunos com NEE.
Os 58,9% docentes utilizam o computador com os alunos a quem prestam apoio, desenvolvendo as mais variadas actividades desde jogos educativos, processamento de texto, processamento de imagem, folha de cálculo, terapia da fala, correcção de fonemas, articulação de fonemas, cálculo mental.
Nesta questão verifica-se que apesar do computador ser um instrumento vulgarizado ainda existe uma percentagem significativa de professores que não dispõem de computador no apoio a prestar aos seus alunos.
É importante, essencial mesmo, que cada professor possua quer, um conhecimento especializado da tecnologia, quer um conhecimento especializado dos seus efeitos específicos ao nível da aprendizagem, para que possa criticamente fazer a escolha necessária para cada sujeito, relativamente ao seu problema específico.
Em termos de aprendizagem, que é pressuposto ser a base de discussão deste trabalho, é efectivamente crítico esse conhecimento. O processo de escolha é totalmente determinante do processo de aprendizagem a seguir pois, efectivamente, uma escolha incorrecta poderá trazer prejuízos irrecuperáveis para o sujeito, enquanto uma escolha correcta poderá ser o meio de fazer com que a sua integração e com que o seu nível de qualificação pessoal e profissional se eleve de modo significativo.
Os educadores vão ver aumentar no interior das suas salas de aula o número de estudantes que possuem incapacidades físicas ou incapacidades de aprendizagem. Cada vez mais, se aponta, para soluções de integração o que de algum modo responde à necessidade de fazer com que os deficientes contribuam de forma positiva para a economia e para o desenvolvimento social de cada país.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que os educadores verão também aumentar no interior da sua sala de aula as condições especificamente de carácter tecnológico e que tem a ver, fundamentalmente, com dispositivos de apoio individualizado a cada sujeito facilitadores da problemática da instrução e facilitadores da problemática da aprendizagem.
O professor, tem que se capacitar que vai ter dentro da sua aula cada vez mais sujeitos que desde o síndroma de Lucher até à degeneração muscular e às percas de capacidades visuais e auditivas, possuem capacidades fisiológicas relacionadas com a aprendizagem.
Vai ter também que perceber serem estes sujeitos capazes de começar a desempenhar as mesmas funções de aprendizagem como qualquer outro sujeito de aprendizagem, desde que possuam os dispositivos tecnológicos que lhe permitam resolver os problemas físicos que os afectam.
Podemos afirmar, que existem em termos educacionais quatro grupos de sujeitos, em que é necessária a identificação de problemas específicos para saber como actuar perante eles, no que diz respeito à deficiência que cada um possui. É uma caracterização etária do seguinte tipo:
Do nascimento até aos seis anos; dos sete aos doze; dos treze aos dezassete; e a partir dos dezassete anos de idade.
Do nascimento até aos seis anos o aparecimento de dispositivos de apoio vai assumir um papel de relevo, quer no acompanhamento familiar, quer no acompanhamento pela parte normalmente dos pediatras que vão fazer a tentativa de reconversão da deficiência que o sujeito possa ter.
Deficiências de tipo visual e auditivo que vão desde a amplificação de sons até à identificação dos mesmos, através de dispositivos electrónicos como o computador, ou a aprendizagem da linguagem de sinais que se torna necessária a uma comunicação, são problemas-tipo desta fase etária.
Digamos que é a fase mais crítica da aprendizagem, a dos elementos fundamentais à comunicação e que tem que ser, obrigatoriamente, acompanhada por três tipos de sujeitos: o médico, a família e o educador pré-escolar.
Dos sete aos doze anos, começa a fazer-se a integração na chamada escolaridade regular, pelo que a situação que tenho vindo a apresentar descreve razoavelmente o enquadramento da aprendizagem. O aluno encontra-se a frequentar, normalmente, o sistema regular de ensino e duas, três, ou mesmo quatro vezes por semana, alguém com conhecimentos técnicos adequados que lhe pode prestar o apoio de que ele necessita para a resolução de problemas específicos vem até à sua escola. Esses técnicos, deveriam fazer uma discussão específica com cada um dos professores dos sujeitos deficientes, no sentido de se identificarem perfeitamente com as dificuldades que eles possuem e com o objectivo de se construírem as articulações programáticas - eventualmente as articulações curriculares necessárias - conducentes a aprendizagens mais correctas com os apoios tecnológicos que os estudantes necessitem.
É preciso não esquecer que, é precisamente nesta fase etária entre os sete e os doze anos que os sujeitos da aprendizagem se encontram perante conjunto padrão de procedimentos que poderíamos chamar de comunicação total, ou seja, em que a informação que lhes é veiculada através de todos os meios de comunicação, tal como para qualquer outro sujeito. Eles podem descodificá-la ou não, através das suas capacidades sensoriais e recebem informação também através de todos os contactos sociológicos que têm ao nível da escolaridade.
Os chamados anos do secundário, ou seja dos treze aos dezassete são críticos porque se passa muitas vezes de uma identificação com pequenos grupos, nomeadamente um grupo-turma, para alterações de capacidade de informação quer na constituição dos grupos de referência, quer mesmo na caracterização da informação que o sujeito necessita e que vai provocar modificações significativas nos procedimentos e necessidades dos sujeitos.
Conclusão/reflexão pessoal
O presente trabalho coloca-se simultaneamente numa perspectiva crítica e optimista. Crítica em relação à escola actual, que manifestamente não satisfaz as necessidades nem dos alunos nem da sociedade. Crítica em relação ao imobilismo que continua em muitos casos a ser a força dominante procurando desculpar e justificar o que é inaceitável e não tem muitas vezes razão de subsistir. Crítica, ainda, em relação a diversas perspectivas de utilização dos computadores que estão longe de conter o poder inovador que muitas vezes se lhe atribuem. Optimista porque na sociedade é cada vez mais aceite que a escola tem de evoluir de forma a passar a ser, ela própria, um factor de progresso e inovação social e se multiplicarem os projectos e as actividades que apontam nesse sentido.
Optimista porque a minha experiência vivida mostra a evidência que é realmente possível que o computador pode ser um valioso instrumento auxiliar no processo ensino/aprendizagem.
A sociedade actual sofre mudanças profundas que chocam com os nossos hábitos e concepções bem estabelecidas, pondo em causa os nossos sistemas de valores. Pergunta-se; estaremos capazes de nos adaptar a viver numa sociedade em permanente transformação? Ou se perderemos a nossa identidade deixando-a alienar-se; que contributo pode o computador dar para a modificação das práticas pedagógicas?
É constantemente feito um forte apelo aos professores para utilização dos computadores na sua prática pedagógica.
Coburn e outros afirmam que "tentando explorar ao máximo a capacidade interactiva dos computadores nas escolas, entre outros problemas, os educadores enfrentam o desafio de saber como usá-los".
O meu trabalho consta duma reflexão sobre a necessidade do computador na prática pedagógica, em geral, e em particular no Ensino Especial.
Embora a literatura especializada seja bastante produtiva em relação ao tema em estudo, o meu objectivo implica que a dissertação inclua, para além da reflexão teórica, uma vertente empírica, onde pretendo verificar até que ponto os computadores são realmente utilizados pelos professor de Educação Especial, com todas as suas potencialidades, como teoricamente é proposto, e quais os factores que, na sua perspectiva interferem na sua utilização.
Ao terminar gostaria de reforçar uma ideia que foi deixada já ao longo de todo este trabalho, é importante que se produzam e divulguem programas informáticos educativos ajustados às necessidades dos currícula, é importante que esses programas sejam interactivos e que promovam uma aprendizagem cognitiva, mas sem os restantes elementos que constituem o círculo escolar - professores, equipamentos, novas atitudes de ensino - não valerão de nada esses programas. Por isso é necessário que nos cursos de especialização em Educação Especial seja dada formação tão exaustiva, tanto quanto possível na área das TIC porque necessita ser estruturada como um todo e não individualmente, equipando escolas, actualizando os planos curriculares, permitindo aos professores uma permanente actualização profissional (formação contínua) de forma a proporcionar a existência de um espaço/escola em que se possa desenvolver um ensino activo.
O Saber deve ser, sempre que possível, complementado pelo Saber Fazer!
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