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Entrevista de Advogada cega ao melhor site jurídico do Brasil!

por Jorge Teixeira

Olá amigos:

Recebi, recentemente, cópia de entrevista de uma amiga brasileira, advogada cega que foi vítima de acto discriminatório que nada advoga a favor da forma como os deficientes devem ser tratados. Tendo tal tratamento sido perpetrado por organismo onde advogados e juizes ditam lei, o fenómeno e realmente estranho. Eis a entrevista:

   ***
*** Título da Página: ESPAÇO VITAL - O melhor saite jurídico da Internet
brasileira ***
Transcrita em 16/7/2010
Porto Alegre, 16.07.10 - MARCO ADVOGADOS -
123@espacovital.com.br
-
Telefone: (51) 32 32 32 32

Advocacia
Exclusivo!
Advogada cega conta como é a sua vida

(16.07.10)
No último dia 14, o Espaço Vital publicou o tocante artigo de uma
advogada cega do Rio de Janeiro, vítima de discriminação por ter tido
proibida a sua entrada no Foro Central da capital fluminense com o seu
cão-guia.

A advogada Deborah Prates contou que já frequentava o local há mais de
anos, com Jimmy, seu escudeiro, quando, abruptamente, uma portaria
revogou todos os diplomas legais acerca do uso do cão-guia pelos
deficientes visuais.

Ela conta ter promovido uma ação contra o Estado do Rio de Janeiro e ter
se chocado com o que reputa ser uma insensível tese de defesa : "usar
óculos escuros, bengala numa mão e cão disfarçado de guia na outra e
adentrar pelo mesmo espaço para fazer mal à sociedade".

Depois de receber vários contatos de pessoas que lhe ofereceram
solidariedade, Deborah revelou ao Espaço Vital uma emocionante história
de vida, contando a vida dos deficientes visuais é difícil, mas
expressando enorme força de vontade e poder de superação das
adversidades.

Curioso sobre como é a vida de uma advogada cega, o Espaço Vital ouviu
debora na entrevista que segue.

Espaço Vital: Como a senhora ficou cega?

Deborah: Ceguei em cerca de 15 dias após ter que ingerir corticoides
para a cura de uma sequela de pneumonia. Essa droga fez subir, ainda
mais, a pressão intraocular, valendo dizer o final da linha da visão
rumo à cegueira.

EV: Qual foi a reação da senhora nos primeiro momentos desse problema
tão grave?

D: Não tive tempo para depressão porque tinha muito a fazer para encarar
a nova realidade em diminuto espaço de tempo até o recomeço das aulas da
minha filhota de, à época, apenas 12 anos.

EV: Para muitos advogados, seria impensável prosseguir na profissão sem
poder enxergar. O que a senhora fez para poder continuar advogando?

D: Ainda no período que denominei de "o apagar das luzes", tratei logo
de ir me apresentando a essa engenhoca de nome "computador". Tinha a
consciência de que a tecnologia era a munição para a guerra em todos os
sentidos. Nem ligar a máquina eu sabia. Isso porque meu escritório era
bem razoável em clientes e número de ações o que me dava um bom retorno
financeiro para custear uma boa equipe de trabalho que, por sua vez,
absorvia o item digitação e consultas em saites necessários ao
desempenho das funções de advogado.

EV: Existe algum proigrama de computador que ajuda pessoas com
deficiência visual a contiuar trabalhando com textos?

D: Baixamos um sistema de nome "Dosvox", brasileiríssimo e gratuito,
desenvolvido pelo Núcleo de Computação eletrônica da "UFRJ". Funciona
com leitor de telas, pelo que conforme o usuário vai teclando e o leitor
vai lhe informando em bom som o que está aparecendo no monitor. Em uma
semana, já estava tirando as minhas primeiras petições com impressão e
tudo. Depois, com maior esforço, fui melhorando principalmente na edição
de textos, já que tinha que manter a qualidade de antes. Introduzi
outros leitores de tela com distintas características e novos programas
de adaptação. Por exemplo, aprendi um programa de escaneamento de
documentos, o que me deu maior independência, visto que já reproduz em -
"txt" - texto e não em imagem como nos tradicionais.

EV: Houve alguma perda de clientela após a cegueira?

D: Sim. Hoje, só trabalho em ações das quais sou autora, uma vez que
todas as que patrocinava antes da cegueira deixaram de existir. Normal.
Cruel! Sim. Contudo, dentro do previsível. É que os "iguais" tendem a
pensar que a supressão de um sentido, por exemplo, significa a perda da
capacidade intelectual. Tive uma triste experiência com meus vizinhos,
que disseram: "A Dra. Deborah é advogada competente, mas é cega. Tem que
sair das ações do condomínio e do conselho consultivo." Desnecessários
maiores comentários, já que o clima de preconceito e discriminação é
cristalino.

EV: Conte-nos da importância do cão-guia para a senhora.

D: Vi que a bengala é uma ferramenta de locomoção que não se deu com a
minha personalidade. Era tão cega quanto eu! Decidi que um olho
quadrúpede seria a solução. Parti para a busca de Jimmy, meu cão-guia,
em Nova Iorque, e o trouxe depois de um curso de 30 dias e sem falar o
inglês. Eis a prova de que quando sabemos querer não existem barreiras
de quaisquer natureza. Depois do Jimmy, a qualidade de vida da nossa
família melhorou sensivelmente e posso dizer que formamos uma "dupla do
barulho" a desbravar as adversidades que vamos encontrando no dia-a-dia.

EV: Quais são as evoluções sociais que a senhora entende serem mais
prementes para o bem-estar de um deficiente visual no Brasil?

D: Hoje luto para transformar o "teletrabalho" uma realidade, para, por
meio da tecnologia, tornar mais confortável a relação entre deficiente e
empregador. Para o deficiente, não haveria o desgaste com a locomoção e,
em contrapartida, o empregador não teria ônus de preparar um ambiente do
trabalho adaptado, nem custear vale-transporte. Entretanto, sem uma
legislação específica e com rara jurisprudência sobre o assunto, os
empresários ainda não estão prontos para esse avanço.

EV: Que mensagem a senhora deixa para outros profissionais que também
portam deficiência visual?

D: Temos que praticar o "jogo do contente", pelo qual sempre devemos
agradecer pelo que restou ao invés de lamentar pelo que perdemos.

EV: A senhora deixa algum alerta à sociedade em geral?

D: Não podemos nos esquecer dos deficientes que não têm recursos
financeiros para ter um simplório e defasado computador. Temos que
lembrar dos interiores nem tão distantes das grandes capitais, onde não
há qualquer infraestrutura para o que quer que seja. Dai é que
percebemos o quão demagógico é o slogan governamental: "Brasil! Um País
de todos". A luta é em prol de todos, pelo que despeço-me deixando aos
leitores do Espaço Vital um exercício de cidadania, no sentido de que
reflitam sobre o pensamento de Alexander Graham Bell: "Nunca ande pelo
caminho traçado,  pois
ele conduz somente até onde os outros foram."

Leia também na base de dados do Espaço Vital

14.07.10
Discriminação contra uma advogada cega - Artigo de Deborah Prates