A menina de todas as cotas
Prezados,
Desta feita, compartilho com vocês o artigo abaixo.
O texto, clara e duramente, diz por si só e, de qualquer modo, quem está em um grupo vulnerável sabe como essas coisas ocorrem.
Uma vida “curtinha que seja, 8,9, ou 12 anos já passou por muitas dessas situações, apenas com matizes diferentes. Uma de 49, 50 ou 79, também! E, em todos os níveis e desníveis da escola e da educação, certamente.
O pior, contudo, não são as marcas físicas das agressões, são as marcas psicológicas, morais, afetivas, as quais se grudam ao ser da pessoa e daí não se vão, nunca mais!
Cordialmente,
Francisco Lima
A menina de todas as cotas
Postado por Vera Garcia em 29.04.2014 | Arquivado em: Deficiência Visual,
Mercado de Trabalho 1 9
Negra, pobre e cega, a estudante de Jornalismo carioca Nathalia Rodrigues sofreu
agressões inimagináveis na universidade, mas não desiste de seus sonhos.
Por Tania Menai
EuNathaliaR"Pertenço a todas as cotas: sou negra, mulher, pobre e cega", diz a
bela e carismática carioca Nathalia Rodrigues, 21 anos. Conhecida do público do
programa de televisão Esquenta, ela conta com um iPhone que lê textos, tem
perfis no Facebook e no Twitter e, mais importante: está se tornando jornalista.
No entanto, a vida de Nathalia não tem nenhum glamour fora da tela. Residente de
uma comunidade nos subúrbios do Rio, ela conta que cegos no Rio de Janeiro não
têm chance de comprar nem uma bengala especial ou um relógio: tudo vem de São
Paulo. Cão-guia, nem pensar: eles teriam de ser trazidos do exterior. Depender
de estranhos para pegar ônibus também é um enorme risco: ela já foi colocada em
várias rotas erradas. Mas nada disso a traumatizou tanto quanto ter que deixar
sua suada (e merecida) vaga como bolsista na faculdade de jornalismo da PUC-Rio
por uma simples questão: ter sofrido racismo e agressividade dos próprios
alunos.
Em entrevista exclusiva à Tpm, Nathalia contou com detalhes como foi a noite de
uma quinta-feira, em novembro passado, quando um grupo de cinco estudantes, três
homens e duas mulheres a agarram pelo braço e a levaram para uma parte deserta,
no bosque da faculdade, arrancando a bengala e torcendo seu antebraço para trás.
"Um deles falava que tornaria a minha vida num inferno, que eu não agüentaria
quatro anos ali, que eu não pertencia à PUC – e para eu tomar cuidado com as
escadas", lembra ela, que levou mais de um ano para conseguir a vaga, pois
dependeu de "ledores" ineficientes no vestibular. Enquanto o estudante falava,
duas meninas riam. Depois de meia hora de agressões verbais, este estudante a
deixou em algum lugar da faculdade, jogou sua bengala no chão e disse: "ninguém
vai descobrir quem eu sou". De fato, nenhuma daquelas vozes era familiar, o que
indica que os alunos não necessariamente são de sua turma ou cursam Jornalismo.
As câmeras disponíveis tampouco captaram imagens relevantes.
Mantendo o ocorrido para si, Nathalia só teve coragem de revelar o que sofreu
uma semana depois, quando desabou em prantos na frente de uma produtora do
Esquenta. Uma notinha na coluna do Ancelmo Góis no jornal O Globo, intitulado
"Filhos da PUC" divulgou que ela passaria a contar com seguranças na faculdade,
por causa "de estudantes malvados". Nenhum repórter carioca se interessou em
investigar o porquê e ir além da breve nota. Mesmo com seguranças, – cedidos
gentilmente pelo vice-reitor Augusto Sampaio, a quem ela deve toda atenção e
carinho que recebeu desde o vestibular -, a vida de Nathalia continuou ameaçada.
Mas as investigações não deram em nada. Nem sempre os seguranças estavam
disponíveis; quando isso acontecia, pessoas "esbarravam" nela propositalmente, e
quando ela chamava os seguranças, os agressores fugiam. Até que em janeiro
passado, um segurança disse a ela: "você está vendo coisas!". Ela respondeu: "se
eu estivesse vendo, eu não dependeria de você". Esta foi a gota d’água. Nathalia
abandonou seu sonho, transferindo sua matrícula para a ESPM. Ela ainda tem aulas
de inglês na PUC, uma manhã por semana, mas sempre anda acompanhada por
alguém, apesar de saber chegar sozinha na sala de aula. "Ainda tremo quando
chego lá", confessa.
Nathalia vive com sete familiares em casa e tem um namorado. Seu olhar positivo
para a vida supera os de muitos que enxergam. Ela anda impecavelmente bem
vestida e impressiona por olhar nos olhos do interlocutor: quem não a conhece
não percebe que ela é cega. "Minha retina é morta, mas o resto do meu olho
funciona – fiz uma terapia para aprender a olhar para as pessoas, calculando um
palmo do som que vem da boca", explica. Recentemente ela foi escolhida para um
programa de jovens da Globo News, não por fazer parte de nenhuma cota: apenas
por seu talento.
Fonte: Revista TPM
http://www.deficienteciente.com.br/2014/04/a-menina-de-todas-as-cotas.html
Confiram:
Pessoas com deficiência cobram respeito legal/cumprimento das leis de acessibilidade, em Recife.
https://www.youtube.com/watch?v=hQYbPUDtHFc
Cordialmente,
Francisco Lima
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