Era uma vez um tempo em que cada dia tinha um santo e cada santo tinha um dia.
Para se saber qual era o santo do dia ou o dia do santo ia-se ao borda de ÁGUA. AGORA A MODA É CADA DIA SER DE QUALQUER COISA E QUALQUER COISA TER UM DIA.
Para se ver qual o dia da coisa ou a coisa do dia, ou vamos à net ou vemos os telejornais que falam da coisa até mais não nesse dia para depois só se lembrar dela quando voltar a ser o dia dessa coisa.
No passado dia 15 foi o dia da bengala branca e até se falou um pouco da coisa como aliás convém no dia de qualquer coisa
Mas que mudanças traz o dia de uma coisa?
Eu cá na minha opinião apenas traz o facto de pelo menos uma vez por ano se falar dessa coisa
No dia da bengala branca lá ia eu agarrado à dita que de branca quase só tem o nome, e o que encontrei?
Carros estacionados no passeio que me obrigaram a ir para a estrada arriscando a integridade da bengalinha, passadeiras sem identificação que deram mais trabalho para que a pobre bengala as pudesse detectar quando era suposto no seu dia a coitada ter algum descanso, montes de obstáculos novos que a bengala teve de reconhecer por horas antes ali não estarem, bom, tudo o que não deveria existir segundo os que nesse dia deram à bengalita estatuto de estrela de telejornal por um dia ela que tem um papel importante todos os dias da vida de um cego e olha que vida de bengala não é fácil, ao contrário de muitos que todos os dias lá estão escarrapachados no telejornal e que se formos analisar a rigor até podem ter um papel importante mas cumprir esse papel é o caraças
No fim de tudo mesmo com um dia dedicado a ela a bengalinha branca não se deixa envaidecer e na sua humildade lá vai no seu ritmo quase musical balançando de um lado para o outro tacteando o chão, guiando os passos no peregrinar constante de quem verdadeiramente lhe dá valor a cada dia e não apenas uma vez por ano sempre no dia 15 de Outubro só porque qualquer coisa tem de ter um dia e qualquer dia tem de ter uma coisa.
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