Está aqui

Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Ver Demais Atrapalha a Áudio-descrição

por Francisco Lima

Ver Demais Atrapalha a Áudio-descrição.

Prezados,

Diz Joel Snyder em sua tese de doutoramento “Audio Description: Seeing With the Mind’s Eye— A Comprehensive Training Manual and Guide to the History and Applications Of Audio Description”:

“Descreva aquilo que for mais indispensável que o expectador saiba, de modo a que possa entender e avaliar a imagem descrita.”
Nas palavras do autor: “- describe what is most essential for the viewer to know in order to understand and appreciate the image being described.”

A fala do autor nos remete a comentar que a diretriz “descreva o que você vê” precisa ser entendida com a leitura da outra diretriz que diz: “menos é mais”.
Em outras palavras, descrever tudo que é importante, necessário e indispensável para que se possa ver a imagem áudio-descrita não significa descrever tudo que os olhos são capazes de ver, mesmo porque a pessoa com deficiência visual enxerga pelos ouvidos, tato etc. e pela cognição do que ela está assistindo/vendo.
Descrever o que os olhos capturam pode ser uma grande bobagem tradutória, como apontamos em nossos estudos de mestrado e doutoramento, a propósito.

Um acessório não pode ser deixado de fora (Lima, 1998), mas a inserção de certos “detalhes” pode implicar em um distrator para o sistema.
Então, na áudio-descrição querer meramente traduzir o que os olhos capturam é fazer uma tradução do tipo literal que só fica bom aos olhos de quem enxerga, não ao tato e audição de quem vê com as mãos e ouvidos.
Para fazer áudio-descrição, portanto, é necessário conhecer da natureza do sistema háptico, tanto quanto do sistema óptico das pessoas com deficiência visual. De outra forma, se pensará que está fazendo áudio-descrição, quando muito se estará fazendo uma descrição narrada.
Fica a reflexão, pois.
Cordialmente,
Francisco Lima