O oftalmologista António Casanova Travassos defendeu hoje, em Tribunal, que a causa da cegueira ocorrida em julho de 2009, em seis doentes, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, "só pode ter sido tóxica".
"Em meu entender estamos perante uma reação química, tóxica e não de causa bacteriológica", defendeu hoje o médico, em nova sessão do julgamento que decorre na 7.ª vara criminal de Lisboa.
António Casanova Travassos deslocara-se ao Hospital de Santa Maria, uns dias depois de os doentes terem acusado cegueira total ou parcial, para participar na recolha de amostras de líquidos dos seus olhos, a fim de determinar que substância lhes tinha sido injetada no globo ocular.
"Até hoje não tenho qualquer informação de que produto foi injetado no globo ocular daqueles seis doentes", disse este especialista de Coimbra, o primeiro a ministrar injeções intraoculares com Avastin (ou bevacizumad), em Portugal.
Os factos remontam a 17 de julho de 2009, quando seis doentes ficaram parcial ou totalmente cegos no Hospital de Santa Maria, depois de supostamente lhes terem sido ministradas injeções intraoculares com Avastin.
António Travassos disse ainda que, na clínica onde faz aquele tipo de intervenção cirúrgica, faz a colheita direta do produto para a seringa a aplicar ao doente.
Confrontado pelo juiz presidente do coletivo sobre se o facto de o Hospital de Santa Maria, na altura dos factos, aplicar o produto através do método de alíquotas (partes elaboradas a partir de uma unidade de Avastin, que depois servem para ministrar a vários doentes) poder ter causado a cegueira aos pacientes, António Travassos rejeitou que tal pudesse ter acontecido, "desde que tivessem sido respeitados todos os procedimentos corretos na elaboração do medicamento".
Questionado pelo presidente do coletivo de juízes sobre a possibilidade de uma injeção mal ministrada poder resultar na cegueira dos pacientes, o médico admite essa hipótese, caso ocorresse apenas num doente.
"A seis doentes com patologias diferentes, e que nem foram inoculados pelos mesmos médicos, é muito difícil que tenha havido erro no administrar da injeção", frisou.
"Admito que possam ter sido injetados com um medicamento com algum bevacizumad, ou alguma mistura de bevacizumad, mas só bevacizumad não", disse.
Acrescentou ainda não acreditar que o bevacizumad provocasse aquela reação, mesmo que não tivesse sido administrado de forma correta.
Para o oftalmologista, qualquer substância tóxica injetada diretamente no globo ocular podia causar uma endoftlamite do tipo da apresentada pelos doentes do Santa Maria.
Hoje, o Tribunal ouviu ainda uma médica do Hospital de Santa Maria - Maria Helena Conceição - que, a 14 de julho de 2009, devia ter injetado três olhos a dois doentes e que só injetou um doente, utilizando, contudo, duas seringas.
Questionada onde ficam os medicamentos não utilizados, a médica disse que ficavam na mesa, mas nem chegavam a entrar para o bloco operatório.
O julgamento do chamado "caso dos cegos de Santa Maria" prossegue no dia 07 de maio, com a audição de uma médica assistente do Hospital de Santa Maria e de dois técnicos de farmácia.
Fonte:
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2422826&page=-1
por DN.pt16 Abril 2012
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