No Dia Mundial da Usabilidade, assinalado a 13 de Novembro, uma iniciativa simples, com objectivos complexos. Um jantar de olhos vendados procurou mudar e aclarar mentalidades sobre as dificuldades das pessoas com deficiência.
A organização foi do Núcleo de Alunos de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidades Humanas (NAERA) e contou com o apoio do Centro de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidades da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). À mesa sentaram-se dezenas de estudantes e professores.
À escuridão da sala juntou-se uma venda nos olhos para quem aceitou o desafio. Depois de conduzidos até à mesa, com simples indicações como: copo em frente à direita, sopa à esquerda e prato ao meio, os participantes eram abandonados na escuridão. Muita dificuldade, porque não tenho noção da quantidade de comida que meto à boca, explicou Raquel. A aluna de Psicologia aderiu à iniciativa por ter visto um cartaz afixado. Já Pedro, estudante de Engenharia Civil, sentado ao lado da amiga Raquel, mostrava mais dificuldades. Sei o que estou a comer, porque vi quando entrei, mas se fosse pelo sabor, não sabia o que responder.
Noutra mesa da cantina, Adelaide, Josué e Diana partilhavam mais uma refeição, mas esta diferente do habitual. Muito complicado, porque não sabemos bem como nos organizar, apontou Adelaide, que depressa sublinhou a necessidade de participar neste jantar. É extremamente importante percebermos na realidade as dificuldades das pessoas com deficiência.
Quanto a Josué, o estudante não escondeu a tentação de tirar a venda, mas Diana impediu. David Fonseca é o presidente do NAERA e salientou que é preciso pensar de forma diferente em relação aos invisuais.
Aluno da UTAD e também portador de deficiência, assegura que é necessário alertar para as dificuldades que os cegos enfrentam e eliminar a discriminação que ainda há em Portugal. No entanto, David Fonseca rejeita o epíteto de coitadinhas para as pessoas com deficiência. Os deficientes são capazes de fazer tudo, frisou.
Quem concorda com mais esta iniciativa dos seus alunos é Francisco Godinho, coordenador do Curso de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas. É um desafio a toda a academia, para se sentirem na pele de um invisual. É importante os alunos fazerem experiências próximas da realidade para melhor perceberem as dificuldades das pessoas com deficiência. Para o professor, esta incitativa derruba a barreira no relacionamento com uma pessoa portadora de deficiência. Há uma certa timidez por não saber como se comportar e, a pouco e pouco, vão-se começando a sentir mais confortáveis. Francisco Godinho deixa o aviso de que quando não se sabe o melhor é perguntar e não fugir ao relacionamento. Depois do jantar e da venda retirada, com mais ou menos fome, os participantes descobriram o que fizeram enquanto retidos na escuridão. A comida fora dos pratos ou os bocados de carne não ingeridos poderão ser o princípio para retirar a venda que ainda tapa algumas mentalidades. Contra os que vêem e não querem ver existe o curso de Reabilitação, que se destaca por ser o único de raiz a nível internacional, havendo somente algumas pós-graduações nos Estados Unidos e na Europa.
Pode orgulhar-se de fazer coisas únicas a nível nacional. Portanto, cresce a parte da responsabilidade e, o que fizermos, queremos fazer bem, sob pena de pôr em risco e em causa esta aposta, salientou o coordenador.
Transportes e Acessibilidade
Sobre o Fórum Acessibilidade nos Transportes realizado durante a tarde, Francisco Godinho destacou que o mesmo procurava reflectir sobre as dificuldades da acessibilidade aos transportes por parte de pessoas com fraca autonomia. Neste seminário foi ainda abordado a necessidade de haver táxis adaptados em Vila Real, à imagem do que já acontece nas cidades da Maia, Famalicão e Valongo.
Frederico Correia
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