Nos últimos 20 anos, o Brasil teve avanços na questão da inclusão, afirmou à Agência Brasil a superintendente-geral da organização não governamental Escola de Gente, Claudia Werneck. A atuação da ONG é baseada no conceito de desenvolvimento inclusivo, que associa a questão da pobreza ao problema da deficiência, sob todas as formas.
Pioneira na pesquisa sobre inclusão no Brasil e na América Latina, Claudia Werneck tem 12 livros sobre o tema. Eu acho que em termos de políticas públicas, a gente avançou muito e tem hoje respaldo para falar. Ela destacou os avanços observados sobretudo nas políticas educacionais. Em relação à cultura, disse que as políticas demoraram um pouco mais para avançar, mas estão começando esse processo.
Eu acho que avançamos muito lentamente na mentalidade das pessoas. Existe, no modo como as pessoas pensam deficiência, questões muito antigas, muito pobres. E, geralmente, elas estão relacionadas à crença de que dar visibilidade ao tema deficiência significa resolver o problema do preconceito e da discriminação. Claudia Werneck afirmou que essa questão pode ser resolvida associando a essa visibilidade reflexões profundas e oferecendo soluções práticas de como transformar inclusão, que é um conceito abstrato e subjetivo, em práticas do cotidiano.
Nesse sentido, lembrou que o livro acessível, ou seja, editado em várias mídias com o objetivo de atender a diversos tipos de deficiência temporária ou permanente, é uma solução para garantir o direito à participação de pessoas com deficiência. Acrescentou que na área governamental, muitos setores estão bastante interessados no tema da inclusão. Entre eles, citou o grupo responsável pelas políticas de juventude, o Ministério da Educação, no que se refere à educação especial, além da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), da Secretaria Especial de Direitos Humanos.
A superintendente da ONG assegurou que na área cultural há um longo caminho a ser percorrido. Tem setores muito resistentes à questão da inclusão. As grandes editoras, por exemplo, resistem ao livro acessível, que consideram algo supérfluo, disse. No segmento da educação, o problema persiste nas escolas particulares, onde muitas crianças com deficiência não têm acesso à escola comum, embora isso seja lei no país.
Na área teatral, muitos produtores e, inclusive, artistas não conseguem pensar em dividir o espaço com uma tela com legendas e tradução em libras (linguagem de surdos), criticou a superintendente. Segundo ela, isso também é previsto em lei. Há diálogos que não foram feitos. E eles incluem pensar o que já temos, mas imaginando que pessoas com deficiência existem.
Claudia Werneck disse ainda que o desafio é saber quanto custa não discriminar. Fazer acessibilidade não é caro, disse. Para ela, os orçamentos que não prevêem acessibilidade é que são caros. A superintendente explicou que quando se faz um projeto no Brasil que não leva em conta a diversidade, o aspecto da deficiência e da inclusão, na verdade, você está construindo um projeto de discriminação. E, consequentemente, um orçamento de discriminação.
FONTE: Agência Brasil http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2010/01/14/materia.2010-01-14.5...
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