Comentários efectuados por Luís Medina
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Eis que o Luís Medina terá de buscar, em seu armário, camisa e calças mais largas. Sim, mais largas para acomodar o ego que, depois de tão intenso, tão significativo elogio, ficou inflado como um balão! Mas peço-lhe que mo permita, afinal, tal não sucede todos os dias! E além disso, é prática do bem viver acarinhar-se com as pequenas conquistas. Tenho conhecido gente que, à espera da grande, da imensurável, da inimaginável conquista, tem repudiado as pequenas. Concentram todo o sentido da vida em poucos e grandes eventos como se tivéssemos todos de ser medalhistas olímpicos. E ao fim, somos falíveis e agir como se não o fôssemos é caminho seguro para a tristeza e para a intolerância consigo próprio. Mas tenho eu cá minha pequena conquista, fiz-me ouvir e, na briga com as palavras, fui vitorioso.
Fez-me lembrar os tempos de criança. Sonhava ser escritor. Queria ler todos os livros, mas ainda não conhecia o Braille. Compraram-me uma lupa eletrônica e pude ler alguma coisa. No entanto, a visão era muito reduzida, o grau de ampliação, muito elevado, os olhos cansavam-se facilmente. E eu insistia... Insistia... Tinha de parar quando os olhos lacrimejavam. A carreira de escritor parecia ter fim, afinal, a gente crescida dizia que para escrever bem, era preciso ler muito e, mesmo com todo o empenho, jamais conseguia ler um livro inteiro. Então, fiquei a imaginar que tinha de ler livros que propiciassem a maior quantidade de conhecimento na menor quantidade de centímetros quadrados. Para meu desespero, isto não incluía Machado de Assis, Clarice Lispector, Somerset Maughan, André Gide, Ítalo Calvino... Romances eram coisa fora de questão. Cheguei à conclusão que havia duas leituras possíveis: enciclopédias e dicionários. Sorteava qualquer página de qualquer dos nove volumes da Enciclopédia do Estudante, era este o nome, e então, lia fragmentos: ora sobre um satélite de Júpiter, ora, sobre a história do cultivo da aveia, ora sobre o Reino da Suazilândia. Mas a visão reduziu-se mais e o cansaço aumentou. Tinha um dicionário de letras grandes, em três volumes, que poderia permitir-me leituras realmente muito curtas. E ficava a passear por suas páginas: isagoge, opróbrio, haríolo, esternutação, discromatopsia, bromeliáceo, dendroclasta, escularápio, almenara... Infelizmente, não tinha acesso ao conhecimento. Eram fragmentos, meros fragmentos que posicionados em seu contexto, tinham algum significado. Enquanto os olhos se apagavam, era esta a minha forma de resistir. Na escola, não tinha boas notas de redação. É que o conhecimento e, principalmente, a maturidade não se adquirem por meio de vocabulário rebuscado. Por fim, chegou o dia de doar a lupa eletrônica. A ampliação máxima era somente uma mancha. E o Braille? Não me ocorria aprendê-lo. Isto era para as pessoas cegas. As enciclopédias e os dicionários não me tinham ensinado verdadeiramente o que eu era. Tinha muito medo do estigma e, por isso, procurava ver-me de outro modo. Passei a buscar os documentários e as reportagens de televisão. O conhecimento tinha de ser falado. Mas não podia anotá-lo, afinal, não sabia Braille... A visão ia mal, mas a mente ia ainda pior. Não aceitar-se cego, impedia-me encontrar a senda do progresso. Conheci os livros em cassetes e, afinal, o mundo dos cegos não me parecia tão hostil. A seguir, vieram os leitores de tela e voltei a ter a caneta entre os dedos. Com o computador podia anotar, período conveniente, porque se avizinhava o exame vestibular. As tecnologias aperfeiçoaram-se e, maravilhado, assisti à chegada da Internet. Então, um amigo, disse-me que devia visitar o Balcão da Biblioteca, seção da página do Ler para Ver. Encontrei mais livros do que jamais tinha visto. Antes de o ler, baixei-os febrilmente. A alegria era tanta que tinha receio de perdê-los. Li como se fosse a última coisa do mundo. Não tinha qualquer vida social e, por isso, a tarefa foi simples. Fechava-me ao quarto e, porque não trabalhava, podia ficar o dia e a noite a ler. Comecei a viver a vida das personagens. Queria ser algumas delas, sentir-me importante em alguma coisa. Fui os heróis e fui os vilões, mas sobretudo, fui as pessoas comuns que habitavam os livros. E estas disseram-me tanto que a vida das personagens foi-se transferindo para minha própria vida. Ao fim, descobri que podia incorporar comportamentos, reproduzir frases não vividas, mas que, por força de interiorizá-las, acabei realmente por vivê-las. Fui forjado pelos livros. A princípio, o artificialismo, depois a exploração, a experimentação, a afirmação, a segurança e a ESSÊNCIA. Sinto-me orgulhoso em observar que o meu plano estruturado de mudança pessoal funcionou e quando as pessoas realmente se dispõem à mudança, ela ocorre ainda que o tempo possa nos impacientar um bocado.
No espaço de sete anos, li mais de 500 livros. Afirmo-o porque, quando me iniciei no Dosvox, ficava feliz em anotar tudo. Viva Daniel Serra! Viva Antônio silva! Deram-me os primeiros livros e, com eles, importante instrumento de mudança. Hoje, vivo a vida real e saboreio a vida dos livros. Tenho planos de, em qualquer dia destes, dedicar-me a escrita de um livro. Será a retribuição, pois que devolverei a vida que me emprestou. Ainda não sei o tema. Talvez seja algo relativo à vida profissional. Ela me tem absorvido. Mas também espero escrever algo sobre a minha visão da cegueira. Fico feliz em saber que, neste caso, teria ao menos duas leitoras. A primeira é minha esposa que, já há tempos, tem-me dito que escrevesse. Disse-me que minhas mensagens parecem livros. Tem razão, são realmente muito longas! Há quem queira que abrevie os capítulos! Novamente muito obrigado pelo incentivo!
Não tinha pensado nisso. De fato, a coexistência entre carros elétricos e à combustão não nos permitirá reduzir o som em demasia. Mas já que os sons estarão a ser emitidos por autofalantes, será que não podemos instalar um botãozinho de volume? Assim, quando mais carros elétricos fossem utilizados, poderíamos reduzir o barulho! Bem, estou a brincar, se cada um pudesse regular o volume e dependêssemos do gosto pessoal, lá se ia o padrão. Mas de fato, poderia ser este um parâmetro da regulagem do veículo. A ver dade é que temos de aguardar mesmo. Não consigo imaginar todas as implicações que isso pode ter. Sempre estivemos a falar da acessibilidade das vias, mas agora, falamos da acessibilidade dos veículos. Esta tal de acessibilidade é um molusco com muitos tentáculos.
Daniel,
Concordo consigo. Se os ruídos forem coisa muito diferente do que esperamos para um veículo, talvez não seja simples associá-los imediatamente a ele, especialmente se um tem som de nave espacial e outro de rugidos de tiranossauro. No limite, poderia confundir-nos e estarmos a imaginar que passamos de fronte a uma loja de jogos. Não sei. Talvez exagere o que não conheço. Mas de certo,, acharia muito bom que o som fosse padrão. De qualquer modo, o trâfego é muito barulhento e não desejo que se perca a oportunidade de que automóveis façam menos barulho. Curiosamente, acredito que com a diminuição do barulho, ouviremos muito mais do que ouvimos hoje. Mas a preocupação é, de fato, muito, muito pertinente.
Isabel,
Porque mais jovem, seu namorado não deve ter a consciência de sua grande responsabilidade. Sim, os pais de filhos deficientes, por vezes, estão a querer que os cônjuges de seus filhos sejam nada menos do que seus sucessores. Se os namorados não se identificam com a responsabilidade e a ternura dos pais, dispostos a cuidar e a orientar, então, não estão aptos ao posto. Estão a falar de namoro? De casamento? Não. Falam de qualquer outro sentimento que não aquele saldável entre um homem e uma mulher que se amam e desejam viver juntos.
Mas o fato é que se fossem da mesma idade, então, porque a consideram menos experiente, achariam-na vulnerável às vontades do namorado. E se fosse mais velho, então, governaria inteiramente sua vida. Se fosse mais velho e ainda normovisual, fica claro, nada restaria de sua autonomia. Mas se fosse cego, então, você não teria pensado nas questões de ordem prática que a união de duas pessoas cegas implica.
O que lhe digo é que qualquer que fosse sua escolha, argumentos haveria contra o que decidiu. A única coisa certa para estas pessoas é que não deveria ter relacionamento algum. Deveria ficar o tempo inteiro a contar os dias até que a morte chegasse. Oh! Sei que sou exagerado. Depois de muitos anos, perguntar-lhe-iam porque não leva uma vida normal como as outras pessoas. N'algum dia, a consciência chega para os pais. Eles se perguntarão o que se fez de tanta proteção. O que acrescentaram na vida de seus filhos. E a resposta é desesperadamente oca, inútil porque os anos já passaram. Às vezes, fico a pensar de que adianta ter os olhos sãos, se insistem em mantê-los fechados.
Seus pais estão perdidos, mas detém os meios para pressioná-la. E o pior é que, nestas circunstâncias, todos os indivíduos são reduzidos à dicotomia entre visão e cegueira. Os que estão na primeira classe, são pessoas ponderadas; os da segunda, imaturos; os primeiros são fortes; os últimos, esfacelam-se ao vento mais débil.
Diante de situação como esta, tendemos aos extremos. Podemos baixar a cabeça e aceitar o que outras pessoas decidem por nós, ou então, fazer escândalo, bater as portas e assumir o confronto. Freqüentemente, nos extremos, não encontramos boa solução. No passado, porque desejava a auto-afirmação, fui teimoso em demasia e, por vezes, deixei de ouvir os pais quando deveria fazê-lo. Porque estamos certos em nos opor a algumas opiniões radicais, somos também radicais e, infelizmente, radicais ao ponto de não ouvir o que nos falam de verdadeiro, radicais ao ponto de perdermos a credibilidade. O equilíbrio é muito difícil. Para alguém que se afoga no mar, é correto dizer que não se debata porque mais rápido as forças se esvaem. Há que se ter calma e equilíbrio. Mas quando as emoções derramam-se aos borbotões, não é sempre possível manter a calma, ainda que nos prejudiquemos por isso.
Se você faz uma escolha e ela é diferente daquilo que seus pais imaginam, de certo, será cobrada por isso. Tudo se resumirá à cegueira. Se uma briguinha de namorados ocorre, é porque cegos e normovisuais pensam de forma diferente, porque pessoas mais velhas e mais jovens pensam de forma diferente. Se, em algum momento, ele sair sozinho porque você não gosta do passeio, então, é porque tem vergonha de si. Estas são as estratégias clássicas de pressão e terá de ser forte para enfrentá-las sem ter raiva do opressor. Não imagina quanto a raiva rouba-nos a clareza do pensamento. Em qualquer discussão, não nos permite articular dois argumentos com lógica, ao menos, comigo tal sucede. Por isso, tento exercitar a calma porque sem ela, freqüentemente, perco a razão.
E será que considero a visão um obstáculo no relacionamento entre duas pessoas em que apenas uma delas é deficiente? É possível que sim, tal qual é possível que duas pessoas de etinias diferentes, de classes sociais diferentes, de religiões diferentes, de convicções políticas diferentes também não se entendam. Ao contrário do que se afirma, de que os opostos se atraem, nos relacionamentos vemos as semelhanças unirem mais do que as diferenças, afinal, as pessoas não são ímãs. A diferença tempera, mas como sabemos um prato excessivamente temperado perde o bom sabor. Sim, diferenças são desejáveis, no entannto, aquelas que nos completam e não as que nos confrontam.
Um dia, disse a minha mãe: "Passei em um concurso público e estou de partida para outra cidade para morar só". Em uma frase, disse que sairia de casa pela primeira vez, que moraria longe e sozinho. O choque foi estarrecedor. A despeito da oportunidade profissional, ela me aconselhou que deixasse tudo de lado. Outro concurso apareceria e, afinal, não se tratava de recusar algo que eu tinha, mas evitar o que eu não podia. O que se poderia esperar de uma mãe? Eu a compreendo. Fez-me recomendações ao enlouquecimento. Levei-a comigo para passar os primeiros dias. Tinha de arranjar casa. Bem, é claro que as tais coisas de ordem prática existem mesmo. Ela adiou tanto quanto pôde, mas ao cabo de duas semanas, disse-lhe que ela tinha de voltar, retomar sua vida porque eu cá já tinha a minha. Deveria ela ficar feliz porque me encontrava. Ficou feliz e triste, riu e chorou. Nos primeiros meses, ligava-me todos os dias para saber o que eu tinha comido, se minha roupa estava adequada, se as frutas estavam bem lavadas, se eu não me expunha a perigos, etc. No início, fui minucioso. Queria a libertação, mas também queria que minha mãe ficasse bem. Depois comecei a dar respostas mais genéricas. Não faria bem a ela mantê-la informada sobre cada minúsculo pormenor. Cada pormenor era um item de verificação, um motivo de preocupação. Os detalhes foram diminuindo. Por vezes, reclamava por meu laconismo. Hoje, já não me pergunta tanto. Confia tanto quanto as mães costumam confiar. Não deixou de ser superprotetora. É mãe. Isso não é possível. Mas considero que a relação esteja equilibrada.
Isabel, quando estamos envoltos pela pressão, pela insegurança, não é fácil raciocinar com clareza. E mesmo quando raciocinamos, não conseguimos agir. Creio que qualquer pássaro, quando está a bater as asas pela primeira vez, avalia que a altura é grande demais e que se cair certamente se ferirá. O importante é que esteja certa de que o caminho existe. Você dará um passo de cada vez. Ora, ora, você tem apenas 33 anos. Tenho 34 e a história que lhe contei, deu-se aos 29 anos. Como vê, não sou experiente como disse em sua mensagem anterior, simplesmente, ultrapassei algumas barreiras.
E a idade importa? A idade cronológica, os anos que se somam ao seu nascimento, não, esta não importa. Importa sim a idade mental. Quando duas pessoas têm maturidades muito diferentes, há risco de que as expectativas de parte à parte sejam muito diferentes e, assim, os namorados se machuquem por não se entenderem. Este é problema verdadeiro. Mas há gente de todas as idades a ter idades mentais de todas as idades. Então, não é perfeitamente natural que pessoas com idades cronológicas distintas se apaixonem? Tão natural quanto dois e dois são quatro. Ocorre que o mundo gosta das simetrias. Tal qual não desejamos um azulejo redondo em uma parede de azulejos quadrados, não apreciamos que a assimetria das relações tenha êxito. O mundo é bem mais fácil de entender se pessoas com idades iguais, com aparências físicas semelhantes, com patrimônios equivalentes, com religiões iguai e com propósitos de vida compatíveis, enfim, o mundo é bem mais simples de compreender se o previsível acontece. Ocorre que a única coisa previsível no mundo é que ele nada tem de previsível.
Tudo o que tem de perguntar é se está a namorar pelos motivos corretos. Minha primeira namorada era muito frágil. Tinha baixa autoestima e, por isso, procurou-me. Namorar uma pessoa cega, para ela, era o único meio de sentir-se grande na relação. Mas ocorre que sou um tantinho autoritário e, sem querer magoá-la, acabei por tornar-me controlador. Não havia uma força que se opusesse à minha vontade. Ao fim, estava a desenhar-lhe o caminho sem que ela pudesse escolher. Era mais pai do que namorado. É claro que isso não deu certo. Por isso, digo-lhe namore, seja feliz, extremamente feliz, mas pergunte-se sempre quais são os motivos que lhe puseram tal pessoa no caminho. Se a resposta é amor, identificação pessoal, admiração, encantamento, então, você está no caminho certo. Se a resposta é que estava só, que alguém tão frágil quanto você estava só, então, estará tão errada quanto eu estive. Fuja deste tipo de relacionamento. Você é cega, mas ora, ora, é uma mulher que se permitir ser olhada, querida, se for você mesma, enfrentando a cegueira como a qualquer coisa de pouco importante, se você conseguir mostrar-se forte, então, será admirada, será querida, será forte, será encantadora, será bom estar ao seu lado e, assim,os olhos se levantarão para vê-la lá em cima. Não está a pensar que estas virtudes, por vezes, tão escassas se atirarão ao vento por causa de uma mísera cegueira não é mesmo? O que digo é perfeitamente verdadeiro quando falamos de pessoas que procuram ser felizes, sem preocupar-se se a felicidade é redonda ou é quadrada. E se não estamos a falar destas pessoas, então, procuremos não nos importar com elas, afinal, são mesmo pobres de espírito.
Vamos lá, Isabel. Nem caminhe tão rápido que tropece, nem tão devagar que não chegue a lugar algum.
Sofia,
Também eu tenho amaurose Congênita de Leber e não é possível ler sua mensagem como se lesse um problema de matemática ou um laudo de inspeção imobiliária. Há muito de minha vida em tudo quanto escreve. Há tempos, considerava que felicidade e visão eram coisas umbilicalmente atadas e que, sem uma, a outra não era possível. Ponderações disparatadas que os anos corrigiram.
Li a respeito desta terapia e, como você, gostaria de enxergar. Quando me sentia oprimido, esta vantagem era ainda maior. É que depositava na visão todas as esperanças de solução para os problemas que teriam de ser resolvidos de outro modo. Não, Sofia, você não está errada. É lícito que sonhe e que comece a caminhar na direção de seu sonho.
Não posso deixar de admirar quem revela tanta atitude. Apenas não fique escrava deste sonho. Enxergar é um lindo sonho. Mas há outros que deva sonhar e, contanto que não altere sua vida completamente para fazer este teste, que não deposite todas as moedas na mesma cesta, então, será muito bom.
O que quero dizer é que, até hoje, você não enxergou e, embora se sinta- compelida a tentar uma mudança, deve fazê-lo sem alterar demasiadamente os batimentos cardíacos. Não se trata de temor de que as coisas dêem errado. Mas simplesmente lhe digo para que não considere a visão como a panacéia para todos os problemas de sua vida. Você é bem mais do que dois olhos. Faça o teste com calma, considerando que pode ser mais uma conquista em sua vida, mas que outras tantas devem ser conquistadas, com menor, igual ou maior importância.
Não lhe digo qualquer coisa que deva ser interpretado como desencorajamento. De modo algum. Quero que seja feliz, exuberantemente feliz e que, tal se dê pelo encontro verdadeiro consigo e que a visão seja, neste cenário, mero adorno que se soma a uma vida de contentamentos. De minha parte, esperarei um bocadinho mais.
Não me chamou a atenção o tempo de arranque pelo que concluo ser este normal. O problema é o tempo que cada operação consome. Se ativo um menu, há uma pausa até que o sistema responda. Se no Nautilus, estou sobre um arquivo, o mover de uma seta para selecionar outro arquivo implica em algum tempo até que o próximo seja selecionado. Com o Firefox, a lentidão é tão grande que se tem a impressão do sistema haver travado.
Creio que você tocou em um ponto importante: o Gnome. O Orca, leitor de telas do ubuntu, roda sobre o Gnome. Algum colega mais experiente poderá confirmar o que direi, mas creio mesmo que o Orca funciona apenas com o Gnome. Em outras palavras, quaisquer que sejam as alternativas que terei, é quase certo que elas impliquem a manutenção do Gnome. E quanto a outras distribuições? De fato, não sei. Teria de garantir que o Orca funcionasse e, provavelmente, para isso, teria de utilizar o Gnome. Como não estou a par destas peculiaridades técnicas, fiz o que julguei o mais prudente. Baixei a versão personalizada do Ubuntu 9.04, concebida pelo Linux Acessível, com tudo quanto hoje seria adequado às pessoas cegas. Mas não resultou. Os serviços estão todos desativados, mas a bem dizer, o problema realmente não parece ser no arranque.
O que me parece é que a promessa de sistema leve pode mesmo ser cumprida, mas da às restrições de configuração a que cegos estão sujeitos, tal a eles não se aplica, sendo um Linux muito carregado e moroso para máquinas mais antigas a única opção possível.
Mas não gostaria que minha mensagem fosse interpretada como uma não recomendação ao Linux. Em primeiro lugar porque apenas menciona uma experiência individual dentre tantas que foram bem sucedidas. Em segundo lugar, porque colegas mais experientes poderão ver outras explicações para o fato.
O que realmente me chamou a atenção é que a distância entre o desempenho que experimentei e aquele que seria confortável, é a distância que medeia o trote de um cavalo com um foguete da NASA. É algo inimaginavelmente distinto. E assim, fiquei a pensar que o padrão do Ubuntu exige uma configuração muito, realmente muito respeitável, pois, como disse, o XP se não é um foguete, ao menos um jato supersônico.
Filipe,
Fiz um teste com o Linux, mas não fui bem sucedido. Nada que diminua as conquistas que este grande sistema tem apresentado. Mas é importante que registremos que nem toda a experiência faz-se de forma tranqüila.
Sempre ouvi dizer que o Linux era sistema muito mais leve do que o Windows. Não tiremos conclusões precipitadas. De certo, devemos levar em linha de conta qual o Windows e qual o Linux que comparamos. Em meu caso, comparo o Windows XP com o Ubuntu 9.04. Em uma máquina com 2 GB de RAM e 1.8 GHZ, o resultado foi indiscutível: o Linux portou-se em todos os quesitos mais lento do que o Windows. A lentidão não era aquela típica de um sistema sobrecarregado. Era patológica, incrivelmente comprometedora e, quando o assunto era Firefox, a lentidão inviabilizava o uso do computador.
Fiquei a pensar que os avançados recursos visuais estavam ativados e, desativando-os, experimentaria velocidade superior. Mas fui surpreendido em saber que estavam todos desativados e que, portanto, a lentidão do computador não se resolveria.
Desinstalei-o. É pena. Havendo uma distribuição que atenda as necessidades específicas de pessoas cegas, sem dúvida, interessei-me. Não tenho qualquer dúvida de que o Linux é um grande sistema operacional, mas tenho de comprar uma máquina muito, realmente, muito, muito mais poderosa e, até que isto suceda, o Linux não é para mim uma alternativa.
Confesso que fiquei muito desapontado, porque esperava utilizar este sistema operacional. Mas as restrições impostas pelo baixo desempenho foram de tal forma expressivas que, mesmo uma experiência para conhecer o sistema, ficou inviável. Sei que minha máquina tem configuração que, para os padrões atuais, não é poderosa, mas surpreendi-me com a exigência de equipamento, visto que a mesma configuração é suficiente para rodar o Windows XP com grande desenvoltura. Aliás, digo-lhe que não pensei em trocar minha máquina porque, com o Windows XP, não tenho mesmo qualquer dificuldade de desempenho. Com 2 GB, o XP roda magnificamente.
Se o Linux se tivesse portado de forma lenta, mais operável, sim, teria continuado minha experiência, mas do modo como foi...
Ana,
Freqüentemente, estamos a ser derrotados por nossa falta de confiança. Somos capazes de dizer: Somos iguais a quaisquer outros, senão nos olhos, mas nos anseios, nos sonhos e, na capacidade de agir, cuidar-se e fazer-se respeitar. O discurso sai farto, mas quando nos vemos confrontados com as opiniões adversas, por vezes, estamos a indagar se isto tudo é realmente verdade. E creia que não duvido desta verdade. O que ocorre é que, todos os dias, temos de adicionar um tijolinho no edifício da segurança. Em pessoas que não possuem quaisquer deficiências, isto ocorre de maneira mais ou menos natural. Em geral, não há sabotagens. Ao crescer, vê-se com naturalidade que os gostos, as aptidões e os anseios amadureçam. Contudo, quando estamos a falar de deficientes, há sempre a noção de que devem ser protegidos. O protegido é aquela pessoa que, não tendo meios de garantir-se por seu próprio talento, necessita da tutela de pessoas mais experientes. Mas nem é certo que necessitem de tutela, nem é certo que seus ditos tutores realmente tenham maior discernimento.
E é verdade que deficientes, em geral, são pessoas menos maduras e menos preparadas para a vida? Sim, é claro que isso é verdade. Se tudo isso depende da experiência e justamente isso nos é negado, então, de que modo poderia ser diferente? Certa vez, um colega narrava-me que estudou em colégio interno para cegos. Viviam um mundo apartado de todo o exterior. Contudo, ao completarem 15 anos, tinham de sair do colégio e, como resultado, nos dois anos seguintes, verificava-se grande número de meninas grávidas. E por que foram tão prematuras? Simplesmente porque não as deixaram viver.
Estão a exigir-nos que sejamos adultos, maduros, ponderados, mas não nos permitem trilhar o caminho da maturidade. Falam-nos com o vigor de quem sabe, mas muitas vezes, fazem-no apenas com a autoridade de quem paga as contas. Eis o grande problema. Sem dinheiro, não se pode experimentar; sem experiência, não se pode amadurecer; e sem amadurecimento não se tem o respeito das pessoas crescidas. E por isso, muitos crescidos sem autonomia continuam ser tratados como crianças.
Não, não estimulo a rebelião. A superproteção é fruto de amor e, a bem dizer, de falta de maturidade e experiência dos pais no que tange à cegueira, à surdez, à paralisia... então, estão a chamar-nos infantis: mas não é infantilidade ignorar o argumento de que ou se ensina a pescar ou, no futuro, não haverá peixe? Não é desarrazoado ignorar que os filhos deficientes devem trilhar um caminho singular no que tange à deficiência, mas perfeitamente corriqueiro no que tange ao resto da vida? Ignorar qualquer destes fatos é pouco razoável. Mas o que fazer se a admissão de quaisquer destas verdades obriga à mudança de comportamento que os pais não desejam. Eles querem o caminho da sua segurança. Desejam não se sentir culpados. Se um filho deficiente se machuca com a vida, então, consideram-se responsáveis por não terem sido capazes de protegê-lo. Quando o amor se converte em sufocação, então, deixa de ser vitamina para converter-se em veneno. Mas como pedir que deixem a situação conhecida? Confiam mais em si próprios do que no mundo. O mundo é terra de ninguém em que reina o mais forte e, se seu filho é frágil, então, deixá-lo erguer as asas é deixá-lo perder-se, aniquilar-se, esfacelar-se com o peso do mundo.
Quando dizemos: Pai, mãe, desejo libertar-me. O que, na verdade, estamos a fazer é pedir que contrariem o instinto, dediquem-se a uma ponderação lógica e concluam que o ganho do curto prazo transforma-se em perda irreparável no longo prazo, que, no longo prazo, seus filhos serão mais frágeis porque não deixaram-no exercitar o músculo da resistência.
Então, não há saída? Sim, é certo que há. Mas na maioria das vezes, a rebeldia não é o caminho. Eles estarão a procurar motivos para restringir-nos o passo. A rebeldia é a prova maior de que estão imaturos e, portanto, enrijece a resistência. Os pais precisam de que lhe ajudem a superar o medo de libertar seus filhos deficientes. Os filhos podem ser seus professores. Porque um dá ordens, restringe e paga as contas, não decorre imediatamente que seja o mais forte. Isto nem mesmo é uma disputa.
Por vezes, os pais falam desajeitadamente: Quem lhe vai querer se é cega? Então, diga-me: se admitirem que, mesmo sendo cega, tem todas as condições de vencer na vida e de despertar o interesse de muitos rapazes, o que terão de fazer em seguida? Terão de afrouxar o laço. Mas o amor e, principalmente, o medo não permitem que o laço se afrouxe. Ora, ora, é claro que poderá ser feliz e que poderá ter um relacionamento de cabeça erguida. Mas antes é preciso que tenha a cabeça erguida. Confie em si. Este é o grande inimigo a ser combatido. Não creio que a deficiência afaste tanto as pessoas quanto se pode imaginar à primeira vista. O que realmente afasta é a falta de perspectiva, os olhos cabisbaixos, o sentir-se pequeno, o sonhar pequeno, o falar como se tivesse medo da vida. Um dos ingredientes do amor é a admiração. Mas admira-se pouco aquele que se vê vencido antes que tenha tentado o suficiente. Há alguns anos, via-me como você, sem alternativas, subjugado pelo poder dos que comandavam minha vida. Quando os assuntos sérios eram falados, minha opinião era desnecessária e, após algum tempo, concluía que devia-me calar. Mas acreditei que devia estudar, estudar como se tivesse de viver ou morrer pelos livros e, ao cabo de alguns anos, concluí a universidade, o mestrado e empregava-me. Veio a autonomia financeira e, por meio dela, a autonomia de ação. Mas fui responsável. Embora não tenha agradado os pais, a autonomia do protegido nunca agrada, dei o passo que podia dar e, a seguir, outro, e mais outro... O caminho foi pavimentado com angústia, mas teve fim. Agora, estou em outros caminhos, mas já senti exatamente o que sente agora.
Gostava muito do WWW.finetune.com. Escolhia-se o primeiro artista e, então, tocava-se aleatoriamente uma música deste. A seguir à primeira execução, tocavam-se outras músicas de outros artistas, porém, com o mesmo estilo. Era muito bom. Mas o serviço agora é pago. Havia também a LastFM, contudo, neste caso, sempre que entrava na página o JAWS emudecia-se. Alguém conhece serviço similar?
Há também o WWW.radios.com.br. Mas a despeito da infindável quantidade de rádios, o número de links quebrados é muito grande, além de ser a página muito carregada e difícil de navegar.
Ao Dosvox não faltam méritos. Foi o primeiro sintetizador de voz do Brasil. Iniciou um número extraordinário de cegos na informática. Devido à dificuldades técnicas, nasceu como um pacote fechado. Se era necessário um editor de textos, então, ter-se-ia de utilizar o editor do Dosvox. Se era necessário um gerenciador de arquivos, então, utilizava-se o gerenciador de arquivos do Dosvox. Ele não nasceu com a filosofia de integrar-se ao que quer que seja. Quando o Windows chegou, ele migrou para este sistema com a mesma filosofia porque o esforço de programação para transformá-lo em um leitor de telas como o JAWS é extraordinário.
Por isso, o Dosvox seguiu um caminho particular em que não pretendeu concorrer com outros leitores de telas mais poderosos. Apesar de todo o poderio do JAWS, continuo a utilizar o Dosvox para certas atividades. Afino o violão por meio de seu afinador. Já converti livros para mp3. Já utilizei o seu servidor de FTP; o seu gravador de sons. Já joguei o jogo do Barão e também Govox. Já utilizei um script do Dosvox para acesso a dicionário, quando isso requeria muita intervenção do mouse. Já criei scripts com o Scripvox, notável exercício para aprender a programar; já guardei telefones e controlei compromissos. E quantos não criaram suas primeiras páginas de Internet com o Intervox?
Bem, o que lhes digo é que, o Dosvox atua em outro nicho. .. Não se propõe a ser um leitor de telas completo, mas em oferecer facilidades. Não aconselharia a ninguém abandonar o seu leitor de telas e ficar exclusivamente com o Dosvox. Porque não lê Javascript, o desempenho de seu navegador é muito ruim. Mas o que dizer. O Dosvox continua vivo porque provê facilidades interessantes.
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